São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Israel repete tragédia egípcia

JAIME SPITZCOVSKY
EM SÃO PAULO

Yitzhak Rabin repete, em 1995, a trágica trilha seguida, em 1981, pelo então presidente Anuar Sadat.
Assassinado por fundamentalistas islâmicos aterrorizados pela paz entre Israel e Egito, Sadat pagou com sua vida pela pioneira ousadia de optar pelo diálogo com o ex-inimigo, e sua morte não sacrificou o caminho de pacificação entre israelenses e egípcios.
A morte de Rabin também não deve interromper a maré de reconciliação do Oriente Médio, e a tragédia pode até mesmo dar um novo empurrão para essa tendência.
Amplos setores da sociedade israelense desconfiavam do processo de paz, mas sem rejeitá-lo. O assassinato de Tel Aviv pode ajudar a tirar algumas dúvidas.
A morte de Rabin mostrou que a alternativa à paz são os grupos extremistas, lunáticos, que ameaçam jogar Israel no caos e na contra-mão da história.
O clima de comoção e indignação também vai empurrar de volta para o processo político israelenses que se afastavam gradativamente da discussão sobre o futuro de Israel.
Assim como em diversos cantos do planeta, a economia começava a monopolizar as preocupações de israelenses antes habituados a discutir somente o problema da sobrevivência do país.
Fazer negócios se tornava mais desafiador do que buscar respostas para questões de segurança e geopolítica.
O Likud, principal partido de oposição, acusava o primeiro-ministro Rabin de sacrificar a segurança de Israel em suas negociações com os palestinos.
A tragédia de Tel Aviv mostrou que o problema de segurança pode vir de dentro das fronteiras israelenses, a partir de grupos inconformados com a estratégia praticada por um governo democraticamente eleito.
O caminho da paz já atingiu um estágio depois do qual não há mais caminho de volta.
Foi tal diagnóstico que levou extremistas ao ato de desespero: matar mais um líder do Oriente Médio que ousou fazer a paz com seu ex-inimigo.
Rabin e Sadat foram homens de guerra, sobreviveram a batalhas encarniçadas nos desertos e territórios disputados por árabes e israelenses.
Bravos do campo de batalha, ambos não conseguiram escapar da ira de covardes fundamentalistas judeus ou islâmicos que escolheram o caminho do terrorismo.
Mas as mortes de Rabin e Sadat surgem como sacrifícios quase bíblicos para conseguir a paz no Oriente Médio.

Texto Anterior: Atentado deve fortalecer processo de paz
Próximo Texto: Novo premiê deve sair hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.