São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Processo de paz continua, diz Israel; lideranças vão ao enterro de Rabin

DA REDAÇÃO

Será enterrado hoje o corpo de Yitzhak Rabin (pronuncia-se "itsrrác rábin"), 73, premiê israelense assassinado no sábado. Para o enterro são esperados 4.000 convidados, entre eles líderes do mundo todo. Após a cerimônia, o chanceler Shimon Peres deve ser chamado para liderar um novo governo.
Peres reafirmou estar comprometido com o processo de paz com os palestinos. O líder palestino Iasser Arafat lamentou a morte de Rabin, mas não deve ir ao enterro, segundo um porta-voz, por temer represálias de grupos que se opõem à paz.
Rabin, Peres e Arafat dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1994, pelo histórico acordo que garante a devolução aos palestinos de territórios ocupados por Israel em 1967.
Devem ir ao enterro Bill Clinton (EUA), John Major (Reino Unido), Jacques Chirac (França), Viktor Tchernomirdin (Rússia), o rei Hussein (Jordânia) e o presidente Hosni Mubarak (Egito). O Brasil enviou o vice-presidente Marco Maciel.
Os tiros que mataram Rabin foram disparados de uma arma em poder de um judeu: Yigal Amir, 25. Uma bala no baço e outra que atravessou a espinha e acabou no pulmão direito mataram o premiê. Preso na hora, Amir confessou o atentado e declarou que pretendia matar Peres, segundo a polícia. Um dos tiros perfurou a letra da "Canção da Paz", guardada no bolso de Rabin e entoada minutos antes com 100 mil pessoas num comício pela paz em Tel Aviv.
Estudante de direito da Universidade Bar-Ilan (Tel Aviv), Amir participava, segundo depoimentos, do grupo Eyal, contrário ao processo de paz. O grupo negou qualquer conexão com o atentado. Segundo a rádio do Exército de Israel, a polícia deteve Hagai Amir, irmão de Yigal, para interrogatório.
Grupos árabes contrários à paz festejaram a morte de Rabin. Em Beirute, manifestantes do Hizbollah (Partido de Deus) saíram às ruas. "Estaríamos mais felizes se tivéssemos podido matá-lo nós mesmos", disse o líder Hassan Nasrala.
Em Israel, a morte de Rabin uniu partidos de direita e de esquerda em torno do governo provisório liderado por Peres. Mas Rafael Eitan, líder do partido direitista Tsomet, afirmou que pode haver uma guerra civil se o assassinato for atribuído aos opositores da paz. "O que aconteceu poderia causar guerra entre nós, entre judeus", disse um rabino de colônia na Cisjordânia.
"Vão embora, fiquem longe", disse o líder da oposição israelense, Binyamin Netanyahu, referindo-se aos colonos radicais. O presidente Ezer Weizmann deve pedir que Peres forme novo governo após o enterro.
Com apoio do partido Likud, de oposição, Peres é o virtual premiê. "A canção da paz que ouvimos deve continuar", disse Peres. Palestinos também manifestaram compromisso com a paz. "Esperamos que o acordo (de paz) não encontre obstáculo", disse Nabil Abu Rudeinah, assessor de Arafat.
O corpo foi levado de Tel Aviv para Jerusalém, onde era velado no Knesset (Parlamento). Milhares foram ver o caixão. Rabin foi o primeiro premiê nascido em território que hoje faz parte de Israel. Também foi o primeiro a morrer assassinado.

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sobre o atentado à pág. 1-3 e da pág. 2-2 à 6

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