São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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MAURÍCIO FARIA

Erramos: 10/11/95
O artigo de Maurício Faria publicado à pág. 3-2 ( Cotidiano) de ontem trouxe título incorreto. O título certo é: "Por favor, o Pacaembu não".
Atendimento a pacientes terminais
O prefeito Paulo Maluf enviou à Câmara Municipal projeto de lei de arrendamento do estádio do Pacaembu e do Centro de Convenções do Anhembi. Não há objeções quanto ao Anhembi, mas ao Pacaembu, sim... Não se trata, portanto, da mera contraposição maniqueísta entre privatização x estatismo.
O bairro do Pacaembu é tombado pelo Patrimônio Histórico em função de suas características de traçado e ambiência, próprias do seu caráter residencial. Os usos tradicionais do estádio, de intensidade moderada -basicamente futebol e ocasionalmente outros eventos- compatibilizam-se com a condição residencial do bairro.
Ao mesmo tempo, o velho estádio constitui um museu vivo da história do futebol, incorporando profundo significado para a memória e a cultura popular. Assim, ele tem sido um marco referencial na cidade, cada vez mais carente de pontos de referência na sua vida urbana. A dissolução do vínculo marcante entre o Pacaembu e o futebol cortará um pouco das raízes, tradições e história de São Paulo.
Na exposição de motivos do projeto de lei consta: "Não se justifica que um equipamento das dimensões do estádio do Pacaembu, gozando de privilegiada condição de acessibilidade, apresente níveis tão baixos de aproveitamento.
Ora, o futebol nem permite o uso seguido do campo. E o próprio projeto de lei indica que a pretendida intensificação do aproveitamento refere-se aos demais esportes, mas, também, aos grandes eventos de massa -megashows, festas, festivais, encontros religiosos etc. A empresa que arrendar o Pacaembu agendará sua utilização em função da máxima rentabilidade, igual a máximo uso.
Duas consequências: 1) o estádio se transformará numa gigantesca casa de espetáculos ininterruptos -um mega-Olímpia ou mega-Palace- tornando-se imenso pólo gerador de tráfego, ruído, agitação e comércio, inclusive ambulante, destruindo o caráter residencial do bairro, base do seu urbanismo, com prejuízos ambientais para toda a cidade; 2) deixará de ser tipicamente um estádio de futebol, virando um banalizado centro de multi-eventos diários, com as inevitáveis desfigurações de sua arquitetura e ambiência, numa ruptura com a memória, as tradições e a cultura popular das quais é um monumento vivo.

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