São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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Microsoft lança o terror informático

DAVID DREW ZINGG
EM NOVA YORK

É outono em Nova York, exatamente como acontece em novembro em qualquer outra parte do mundo civilizado. Poderia estar acontecendo em Sambalândia, por exemplo.
Veja só o que está acontecendo neste outono nova-iorquino:
As terríveis explosões nucleares francesas estão sofrendo a corajosa oposição do heroicamente politicamente correto ator Johnny Depp. O sr. Depp está tomando uma atitude resoluta de confronto com os destrutivos testadores de bombas atômicas da Queijolândia.
Toda vez que o garçom aparece à sua frente, Depp corajosamente se recusa a aceitar a água de gargarejo comumente consumida no país, o líquido libatório francês conhecido como água Evian.
Ainda neste mês, os franceses devem dar início à corrida anual para fornecer carregamentos inteiros do vinho mais exageradamente louvado que a humanidade conhece, o "Beaujolais Nouveau. Depp provavelmente vai liderar um grupo de outros profundos pensadores políticos como Cindy Crawford, Naomi Campbell e sua namorada magricela, Kate Moss, na iniciativa de derramar o vinho nas ruas sedentas de Manhattan, a título de protesto.
Com certeza toda essa oposição vinda de pessoas normalmente tímidas e retraídas, como é o caso de modelos e atores, terá o resultado desejado.
O dirigente francês Jacques Chirac ouvirá as vozes erguidas em protesto e ordenará o fim das experiências atômicas.
Afinal, Depp e a brigada das modelos não são os únicos que se opõem aos testes. Na Inglaterra, segundo consta, a princesa Diana teria corajosamente recusado um prato de ameaçadores "fraises des bois (morangos silvestres) franceses.
Heil Bill!
Agora faremos uma pausa para ouvir uma notícia séria. O "The New York Times não é conhecido exatamente como um jornal dirigido a idiotas. Na realidade, é mais ou menos o jornal mais sério que você poderá ler aqui na Gringolândia.
Assim, quando a revista de domingo do "The New York Times dedica sua capa a uma matéria chamada "O Monopólio Microsoft, você sabe que se trata de uma acusação bastante séria. Mas, quando a foto da capa é a de um macaco gigante abraçando um computador pessoal, você começa a perceber que o "Times não está brincando. E quando você lê a legenda da foto, começa a pensar que o "Times está falando sério mesmo: "Como você faz para segurar um gorila de 400 kg?
Dentro da revista, o artigo parece um documento de oito páginas para ser usado pelo governo para processar aquele gênio do mal com cara de imbecil inofensivo que é o sr. William Gates.
Tio Dave possui um computador Macintosh, cujo sistema operacional é muito superior ao Windows da Microsoft. (Mais uma vez, os gênios do governo brasileiro tomaram a decisão equivocada quando ditaram que o computador nacional seria do tipo que usa softwares da Microsoft. Agora a imensa maioria dos usuários brasileiros de computador foi transformada em prisioneira perpétua de Gates.)
Mas o que deixou o "Times chateado é o fato de que Gates e companhia estão construindo o maior monopólio mundial que já existiu. O "Times diz que "Se a gigante dos softwares conseguir o que pretende, em pouco tempo estará em condições de recolher uma taxa em cima de cada passagem aérea que você compra, de cada compra que você faz com cartão de crédito, cada fax que você envia, cada imagem que você chama em teu computador, cada local na Internet que você visita.
O jornal prossegue: "Está na hora de impôr um limite. Mas onde? A Microsoft não é um monopólio visível, do tipo que conhecemos no Brasil. Ela não detém o controle absoluto sobre algo concreto e palpável, como papel higiênico, cimento ou automóveis.
A Microsoft controla softwares, um produto muito mais sutil e quase invisível. E, com seu controle sobre softwares, a Microsoft pode fazer truques muito mais sujos com sua vida. É quase como um novo tipo de tortura, onde você não sente a dor -só percebe os prejuízos.
O "Times conta uma história de terror informático relativa ao novo produto da Microsoft, o Windows 95.
Antes de instalar o Windows 95, um usuário se ligava à Internet usando software produzido por uma concorrente da Microsoft, o Internet in a Box, da Compuserve. Agora não mais, porque o Windows 95, em silêncio, invalidou uma peça-chave da configuração que ele antes usava para acessar a Internet, e fez com que ficasse difícil demais para reinstalá-la.
O usuário em questão é um jornalista que escreve sobre computadores. Ele tem acesso a ajuda especializada. Mas ele contou ao "Times que a vida é curta, de modo que ele agora usa o Microsoft Network, embora não goste.
Não deixa de ser uma maneira interessante de fazer negócios -ganhar vantagens, sabotando o software dos concorrentes.
Segundo o "The New York Times, a Microsoft se orienta por uma "ética tênue.
Se o governo não impuser algum controle a Gates, ele se transformará num Grande Irmão muito maior do que George Orwell jamais imaginou que seria possível.
À base de amendoim
John F. Kennedy Jr. enfrenta dificuldades com as mulheres e a imprensa. Parece que não consegue esquivar-se nem de umas, nem da outra.
O primeiro número da nova revista de John-John, "George, foi um sucesso total. Os exemplares esgotaram completamente. Talvez isso se deva a seu conteúdo interessante, que incluía uma coluna escrita por aquela velha pensadora política profunda que é Madonna.
Como você deve se lembrar, Joãozinho, Madonna foi uma das namoradas de John. Segundo seus amigos íntimos, ela o deixou com muitas recordações.
Alguns dos detalhes do caso dos dois, vivido no final dos anos 80, só agora estão vindo à tona. Ao que parece, a Material Girl tem um jeito amoroso de tratar a boa e velha comida caseira gringa.
Consta que certa vez ela teria untado o belo e jovem corpo do sr. Kennedy dos pés à cabeça com ...adivinha o quê? Manteiga de amendoim. Depois de tudo untado, ela começou a lamber. Na improvável hipótese de você já haver tentado comer um sanduíche feito com essa meleca, Joãozinho, você terá uma idéia aproximada da determinação férrea da cantora loira.
Certa vez Madonna chegou num encontro familiar dos Kennedys de surpresa, sem ter sido convidada. Jackie, compreensivelmente, ficou um tanto quanto chateada. Mais tarde John disse a Madonna que teria que romper com ela, porque a mamãe não aprovava o namoro.
A cantora concordou, e depois derramou um copo de Chablis sobre ele. Se fosse Johnny Depp, teria derramado água da torneira.
Ultimamente o jovem Mr. Kennedy vem sendo visto em companhia diferente. Na semana passada ele jantava num restaurante do centro de Nova York, acompanhado apenas de seu pastor alemão.
O cão, muitíssimo bem treinado, estava sentado na cadeira a seu lado. É impressionante, mas não deixa de ser curioso, levando em conta que John-John estaria, supostamente, evitando chamar a atenção pública.

Tradução de Clara Allain

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