São Paulo, quinta-feira, 9 de novembro de 1995
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Saberes

Em sua coluna de ontem, Gilberto Dimenstein apresenta dados curiosos. Nessa era em que o acesso ao conhecimento nunca foi tão fácil e rápido, 74% dos alunos norte-americanos de 14 anos não têm a menor idéia do que tenha sido a Guerra Fria. A mesma porcentagem de alunos dessa faixa desconhece a data e o local de assinatura da Constituição de seu país.
O fenômeno é global. Um terço dos jovens ingleses não sabe quem foi Winston Churchill. Entre os paulistanos maiores de 16 anos, 61% desconhecem qual é a capital do Rio Grande do Sul; 92% não sabem o número de Estados do país, e 18% apontam o México como nação vizinha do Brasil.
Pragmaticamente, essa tendência de perda de cultura geral da população, por mais lamentável que seja, faz algum sentido. Vive-se hoje a era da especialidade.
Exceto para um historiador, saber a data e local da assinatura da Constituição dos EUA não faz a menor diferença em termos de salário ou colocação profissional. Analogamente, o nome da capital gaúcha nada acrescenta à vida do paulistano, a menos, claro, que seja operador de turismo ou caminhoneiro.
As pessoas hoje investem seu tempo de atividade intelectual quase que unicamente em sua área de atuação, o que não deixa de fazer sentido, diante da estonteante velocidade com que os conhecimentos têm de ser reciclados para manter-se minimamente atuais.
O grave, porém, é que a cultura geral é um patrimônio precioso da humanidade. Se saber ou não quem foi Churchill nada muda no bolso das pessoas, corre-se o risco de esquecer o que foi a 2ª Guerra, o nazismo e o holocausto. Esse esquecimento pode levar à repetição de erros pelos quais a humanidade já pagou um preço elevado demais.

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