São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
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A saída

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - A constatação de que o Rio está mais violento do que há um ano mostra que a simples mudança de governo não foi o remédio contra a violência.
Eleito com uma plataforma que priorizava a questão da segurança, o governo Marcello Alencar está convivendo com mais criminalidade do que seu antecessor, mostram os números publicados pela Folha ontem.
Se a troca de governo não foi a panacéia esperada, a mobilização de vários grupos da sociedade, liderados pelo Viva Rio, aponta a saída possível. A criminalidade só poderá ser controlada quando houver um compromisso social para isso.
Ao proporem a mobilização da cidade, esses movimentos ainda não estão questionando diretamente a imensa desigualdade social do país. Mas o simples fato de eles existirem coloca em discussão comportamentos e convicções incorporados pela sociedade.
Entre eles, a convivência cordial do carioca com a transgressão, que é, como vários outros aspectos, um reflexo da fragilidade do Brasil como sociedade organizada.
A classe média que condena a falta de policiamento é a mesma que suborna policiais para poder cometer infrações no trânsito ou comprar drogas nas esquinas da zona sul.
Os pobres preferem o domínio de uma quadrilha local a terem de sofrer a violência policial cada vez que há uma invasão de favelas. Há ainda o temor de que criminosos de outras áreas submetam a população pelo terror se houver a prisão dos bandidos conhecidos.
Os ricos, que sempre gozaram das facilidades de viver em um balneário cercado de serviçais subempregados, criaram o discurso amplamente difundido de que a violência era fruto da imobilidade brizolista, procurando fugir de suas responsabilidades.
Em sua defesa, o antigo governo mostrava um programa de médio e longo prazo, no qual propunha a reforma da educação pelos Cieps.
Pressionado, o novo governo mostra que não pode esperar tanto tempo e propõe a reforma da polícia.
Em meio ao debate das diversas correntes que propõem soluções, a criminalidade vai crescendo e mostra que está plantada no solo fértil da vexaminosa distribuição de renda do país.

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