São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caro prefeito

O prefeito Paulo Maluf é engenheiro. Natural, portanto, que manifeste um pendor especial pelos empreendimentos nos quais a engenharia ganhe proeminência. Mas tudo se complica quando essa inclinação acarreta custos extraordinários para o contribuinte ou quando o amor à técnica fere a lei.
As duas coisas parecem estar ocorrendo agora, em mais uma iniciativa polêmica do alcaide paulistano. A prefeitura descumpre a Lei de Licitações ao não atribuir a melhor nota às empresas que oferecem o menor preço.
A engenhosa fórmula que a prefeitura quer aplicar nas concorrências da Secretaria de Vias Públicas tem o efeito inusitado de fazer com que as empresas apresentem o preço que interessa ao governo. Paroxismo maior, em alguns casos ganha maior nota quem apresentar-se à concorrência com o maior preço.
Dar maior ponderação ao aspecto técnico pode até ser louvável em teoria, mas daí a desrespeitar uma lei que visa a defender o erário vai uma longa distância que o prefeito quer vencer em alta velocidade. Certamente há como garantir a qualidade e a exequibilidade do projeto vencedor por outros meios que não onerando os cofres públicos.
Há quem creia que tudo o que é caro é bom. Essa máxima talvez até seja verdadeira em muitos casos, mas daí não se está autorizado a pensar que tudo o que é bom será, necessariamente, caro.
Aliás, esta é precisamente a filosofia que rege a execução de concorrências e licitações, tanto no setor público quanto no setor privado. O prefeito demonstra nesse caso enorme dificuldade em discernir entre ser caro e ser bom.

Texto Anterior: Cadeia ou governo
Próximo Texto: Os bons companheiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.