São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Os bons companheiros

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A MP que facilita a fusão ou incorporação de bancos ajuda a entender melhor o que se quer dizer com a tão badalada parceria entre o governo e a iniciativa privada.
Pena que não seja novidade alguma. É o velho esquema de sempre: o governo socializa os prejuízos, em mais uma cena explícita de capitalismo sem riscos.
O único argumento a favor do esquema é a suposta defesa dos correntistas, que seriam prejudicados em caso de quebra de instituições financeiras. Por que, então, o governo não usa o dinheiro que vai doar aos banqueiros, a juros de pai para filho, para criar um fundo de socorro direto aos correntistas?
Se algum banco quebrasse, os depositantes seriam ressarcidos com o dinheiro desse fundo, que deveria ser engrossado com uma contribuição dos próprios bancos, afinal os maiores interessados na saúde do sistema.
Além, é claro, de uma ofensiva fulminante sobre a fortuna pessoal dos donos dos bancos que viessem a quebrar (item que só ontem o governo concordou em incluir na MP, assim mesmo como intenção).
É um escárnio a continuidade de um método em que, por exemplo, um banqueiro de banco falido (Ângelo Calmon de Sá, do Econômico) diz, candidamente, ter retirado R$ 10 mil, na véspera da intervenção, só para as despesas de fim-de-semana. Afunda a empresa, o empresário fica mais rico.
É essa gente que o governo vai amparar com o seu dinheiro, leitor.
Por que, então, não cria um fundo para facilitar fusões de empresas do setor têxtil ou calçadista, ambos afundados em enorme crise?
Só não sugiro um fundo também para desempregados, inadimplentes e miseráveis em geral porque é inútil. Os governos, sucessivos governos, acabam (ou começam) sempre fazendo a opção preferencial por associar-se a quem não precisa do sócio governo para ficar rico, ainda que não dispense uma mãozinha de papai Estado para tanto.
Depois, ainda saem por aí fazendo comícios contra a intervenção do Estado (desde que não seja a favor deles) ou contra o excesso de gasto público (desde que não embolsem algum).

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