São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Políticos e intelectuais dão apoio a Pelé

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO

Personalidades endossam defesa de voto em negro, mas fazem restrições a associação entre político e corrupção
Políticos, intelectuais e artistas ouvidos pela Folha concordaram com Pelé na defesa de maior participação dos negros na política.
Muitos, porém, apresentaram restrições à afirmação do ministro dos Esportes de que "o sinônimo de político, no Brasil, de maneira geral, é corrupto, e o negro não carrega essa marca". Pelé também disse anteontem que os negros devem votar em candidatos negros.
O professor de filosofia política da USP (Universidade de São Paulo) Renato Janine Ribeiro viu "muito sentido" na sugestão de que as pessoas procurem votar em pessoas próximas a elas.
"Há, por parte dos negros e dos excluídos em geral, a tendência de escolher pessoas que não necessariamente os representem", disse.
Benedita da Silva, senadora (PT-RJ), considerou importante que Pelé tenha se pronunciado sobre o assunto. "Nós (os negros) estamos excluídos do processo de participação política."
A senadora concordou inclusive com a afirmação do ministro sobre a corrupção: "A corrupção não é da cultura da raça negra, que tem uma transparência muito grande".
Abdias Nascimento, 82, suplente de senador (PDT-RJ) e negro, disse que o Congresso não se sensibiliza com as "questões negras". Em sua opinião, a mudança dessa postura depende do aumento da representação negra.
O coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Paulo Sérgio Pinheiro, não quis comentar a declaração de Pelé.
Mas disse concordar com o princípio de que mais negros devem ocupar posições no Legislativo, Executivo e Judiciário.
"É escandaloso que, 107 anos depois da abolição da escravatura, a comunidade negra esteja virtualmente ausente de posições de mando no Brasil", afirmou.
A atriz negra Ruth de Souza afirmou que Pelé "tem toda a razão" quando diz que os negros são relegados a segundo plano.
Mas ela discordou da afirmação do ministro sobre corrupção. "Não tem nada a ver com a raça. Pode ser branco, preto, azul ou cor-de-rosa."
A professora de ciência política da USP Maria Hermínia Tavares também criticou a observação relativa à corrupção. Mas defendeu a eleição de maior número de pessoas comprometidas com a defesa dos direitos da população negra.
Milton Gonçalves, ator negro e subsecretário de Gabinete Civil do Estado do Rio, defendeu Pelé nesse ponto: "Quando ele falou de políticos desonestos, não quis dizer que todos são desonestos".
O educador Marco Aurélio Franco afirmou que o voto de negros em negros "é uma bandeira que precisa ser levantada no país, embora possa parecer uma espécie de racismo às avessas".
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, fez restrições às afirmações do ministro: "O Pelé que me desculpe, mas existem muitos brancos mais comprometidos com a causa negra do que muitos negros".

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