São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Malária já afeta 27% dos índios mundurucus no PA

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O crescimento de casos de malária no Pará fez com que a doença atingisse este ano 27% dos 4.500 índios mundurucus, em Jacareacanga (1.250 km a sudoeste de Belém). Pelo menos 26 índios morreram desde janeiro.
Segundo a secretaria estadual de Saúde, foram registrados neste ano 70 mil casos de malária no Estado. A Funai (Fundação Nacional do Índio) registrou, entre os mundurucus de Jacareacanga, 1.207 casos de janeiro a outubro.
A secretária de Saúde, Elisa Vianna Sá, disse que 300 mil pessoas podem ser contaminadas até o fim de 95.
O administrador regional da Funai, Walter Azevedo Tertulino, disse que são registrados 120 novos casos da doença entre os mundurucus por mês.
A previsão é de 1.447 casos até o final do ano -mais que o dobro dos 720 casos registrados entre os índios em 93. Também é grande a incidência de hepatite, verminoses, diarréia infecciosa, conjuntivite e gripe, com quase 3.000 casos registrados em 95.
Em Jacareacanga, os missionários do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a Funai explicam que o aumento das doenças se deve à alta concentração de garimpos no rio Tapajós.
Segundo a Funai e o Cimi, são mais de 500 garimpos ao longo do rio, onde há grande concentração de mosquitos anófeles (transmissores da malária) que picam garimpeiros doentes e infestam os índios.
Os garimpos também poluem a água do rio que banha a aldeia, causando hepatite e diarréias.
O Cimi, ligado à Igreja Católica, aponta também que toda a tribo paracanã, em Altamira (460 km a sudoeste de Belém), foi contaminada por malária.
Segundo a missionária Terezinha Vieira, 32, cada um dos 209 paracanãs já foi infectado, em média, três vezes só neste ano.
Terezinha, que trabalhou como professora na aldeia, disse que pegou malária duas vezes.
Além dos paracanãs, segundo o Cimi, há malária nas outras oito áreas indígenas da cidade.
A missionária Terezinha, que disse ter saído da aldeia por pressões da Funai, afirmou que não há uma assistência regular aos índios no local.
Segundo a irmã Maria José Alves de Lima, a ação da Funai e da Fundação Nacional de Saúde é mínima. "Não há médicos e os remédios são insuficientes", disse.
Segundo ela, os remédios usados são doações de entidades alemãs.

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