São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Culto à 'intermediária' divina lota a cidade

DONIZETTI DE CARVALHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No último dia 12 de outubro, a cidade de Aparecida, no Vale do Paraíba, esteve novamente infestada por romeiros de todas as regiões do Brasil.
Nesse dia, a pacata cidade, acostumada a conviver com uma população em torno de 50 mil habitantes, passa por muitas transformações para receber uma multidão de devotos que chegam a 500 mil pessoas durante a semana que antecede o Dia de Nossa Senhora Aparecida.
Conhecida como a capital religiosa do país, Aparecida se desenvolve registrando uma das maiores arrecadações do Estado.
Em outubro de 1717, dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcellos, o conde de Assumar, estava chegando para tomar posse das capitanias de São Paulo e Minas Gerais.
No Vale do Paraíba, perto de Guaratinguetá, a notícia da chegada do novo governador se espalhou. Era preciso providenciar uma boa recepção.
Para que o conde de Assumar tivesse uma recepção digna de sua importância era necessário um banquete, e os notáveis da vila de Guaratinguetá conclamavam os pescadores a trazer quantos peixes lhes caíssem nas redes.
Mas os pescadores do rio Paraíba ficaram preocupados. Os tempos estavam difíceis.
Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso decidiram se aventurar pelas águas do rio. Os três homens lançaram a rede e aguardaram sem nenhuma esperança. No fundo da rede, os pescadores encontraram uma pequena imagem, sem cabeça, e com um anjinho aos pés. Era um pedaço de uma imagem de Nossa Senhora.
Mais tarde, encontraram uma cabeça e ela se encaixava perfeitamente na outra parte da imagem. Hoje, a imensa basílica é pequena, nos fins de semana, para abrigar a quantidade de devotos que chegam de todas as regiões.
As ofertas dos romeiros trazem histórias de milagres e terríveis sofrimentos. Algumas tendências científicas, principalmente ligadas ao campo psicológico, tentam explicar esses fenômenos fundamentados na tese de que parte dos males que atinge a humanidade não passa de uma criação da mente.
Para reforçar essa afirmação, os estudiosos costumam definir a fé como agente da cura.
Muitos médicos vêm afirmando que uma das causas das curas é o desejo de viver.
Assim, a imagem santa e a devoção sincera seriam a materialização desse desejo, mas é a mente que está agindo sobre o físico, movida pelo poder da fé.
Entretanto, como afirma o ex-bispo de Aparecida, o milagre é um "sinal de Deus". Segundo ele, quem opera os milagres é Deus, os santos são intermediários, intercedendo pelos seus devotos.

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