São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Empresas já se defendem dos bancos

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Grandes empresas já estão criando mecanismos para se proteger de uma possível onda de fusões de bancos, iniciada na semana passada com a compra do Nacional pelo Unibanco.
A regra número um hoje, seguida à risca pelos executivos financeiros, é diluir o máximo possível o risco dos investimentos.
Se antes do episódio do Banco Econômico concentrávamos os investimentos de curto e longo prazos em três bancos, hoje diluímos os negócios em seis grandes instituições, diz um executivo de uma grande empresa do varejo que prefere não ser identificado.
Ele explica que, além de pulverizar as aplicações, a sua empresa decidiu reduzir de 70% para 20% a fatia dos investimentos em que cada banco para minimizar ainda mais o risco.
Até mesmo nas operações corriqueiras de compensação de cheques das lojas, a empresa não quer correr ser pega no contrapé.
É que ela ficou com o dinheiro preso por um dia no Econômico, em agosto, e teme passar novamente por essa experiência.
A saída adotada pela empresa, segundo o seu diretor, foi deixar de trabalhar com os bancos considerados hoje de risco e passar a operar só com instituições de primeira linha que tenham uma forte rede de agências no país.
Bastidores
Além de diluir o risco, as empresas estão buscando com maior frequência informações de bastidor do mercado financeiro.
Mais do que nunca, os empresários estão se municiando das informações quase que na mesma velocidade em que os fatos ocorrem.
Segundo outro executivo que também não quer identificado, atualmente o seu departamento financeiro consulta duas vezes por dia o mercado para checar qual banco está no redesconto.
O redesconto é uma linha de crédito do Banco Central que socorre diariamente os bancos em situação ruim, isto é, aqueles que não conseguem fechar o caixa.
Apesar de todas as garantias dadas pelo governo no processo de fusões, os executivos financeiros ouvidos pela Folha não escondem que estão muito cautelosos no trato com os bancos.
Há empresas que até alteraram uma tabela de classificação dos bancos usada pelos funcionários da tesouraria para avaliar a credibilidade de cada instituição financeira, diz outro executivo do setor.
E, nesse aspecto, os bancos estrangeiros e, principalmente os de investimento -que trabalham com grandes quantias e não tem redes de agências no varejo- acabam levando vantagem.
É que, com os últimos boatos que correm no mercado financeiro, eles são o porto mais seguro para os aplicadores. Resultado: estão ganhando mais confiabilidade junto aos investidores.
Solidez
Hoje o ponto-chave para optar por investir no banco A e não no B é a solidez da instituição, afirma outro diretor financeiro.
Segundo ele, até pouco tempo atrás atenção dos diretores financeiros estava voltada para as taxas de juros oferecida pela aplicação do dinheiro e outras vantagens.
Agora, no entanto, o que está contando é se a o banco é sólido e não vai ser incorporado por outro.
A cautela é tanta que o diretor financeiro de uma grande cadeia de lojas chega a afirmar que, se tivesse na mão hoje uma bolada de R$ 50 milhões, o destino certo seria investir na ampliação do seu crediário próprio, apesar do alto índice de inadimplência (atraso no pagamento) registrado no varejo.

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