São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Dietrich brilha em "Testemunha..."

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Testemunha de Acusação
Produção: Estados Unidos, 1957
Direção: Billy Wilder
Elenco: Tyrone Power, Marlene Dietrich, Charles Laughton
Onde: Cinesesc

O mínimo que se pode dizer do filme "Testemunha de Acusação", de Billy Wilder, baseado na peça homônima de Agatha Christie, é que se trata talvez do drama de tribunal mais espirituoso e eletrizante já realizado.
Em Londres, um jovem desempregado, Leonard Vole (Tyrone Power), é o principal suspeito do assassinato de uma viúva de meia-idade, que lhe deixou em testamento toda sua fortuna.
Vole procura o célebre advogado Wilfrid Robarts (Charles Laughton) para defendê-lo no tribunal.
O que complica toda a "linha de defesa" de Wilfrid Robarts é a entrada em cena de Cristine Vole (Marlene Dietrich), a mulher do réu, que deveria corroborar as declarações do marido, mas acaba servindo de testemunha de acusação.
Mas calma: daí para diante ainda ocorrerão algumas reviravoltas vertiginosas, bem ao gosto de Agatha Christie e muito bem conduzidas por Wilder.
Wilder
Nas mãos do cineasta do duplo sentido, essa trama diabolicamente engendrada dá margem a um ensaio sobre a verdade e a representação, em que Marlene Dietrich dá um show de competência e versatilidade.
Graças à sutil interpretação dos atores e a um engenhoso uso dos "flashbacks", tudo é ao mesmo tempo falso e verdadeiro nesse terreno movediço: o casamento de Cristine e Leonard, as declarações dadas no tribunal, os bons sentimentos.
Relação
Wilder diverte-se também desenvolvendo um duelo paralelo entre o velho e rabugento advogado, que convalesce de um infarto, e sua enfermeira particular (Elsa Lanchester), empenhada em fazê-lo evitar o álcool, os charutos e as emoções fortes (leia-se os casos penais).
A relação entre os dois, engraçada e comovente, é o avesso da relação entre Tyrone Power e Marlene Dietrich.
É a subliminar e sublime história de amor entre dois seres desprovidos de qualquer glamour. E o mais bonito é que, no fim, o desejo e o dever acabam se harmonizando.

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