São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Militares querem apressar o novo serviço de informação do governo

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Que o governo FHC não está livre de lobbies e tráfico de influência, os acontecimentos da semana, em torno do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), demonstraram. Mas para a área militar ficou claro também no episódio que falta ao governo um serviço de informações.
Os militares querem terminar com as disputas em torno da definição da nova agência de inteligência do governo.
Os ministros Zenildo de Lucena (Exército) e Benedito Bezerra Leonel (Estado-Maior das Forças Armadas), já manifestaram esta preocupação ao presidente.
A criação da nova agência de informações se arrasta há mais de dez meses por causa de divergências entre o secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e o subsecretário de Inteligência, general Fernando Cardoso.
Na visão de Zenildo e Leonel, é a indefinição da Subsecretaria de Inteligência da Presidência que leva o Planalto a se expor a escândalos e a buscar socorro nos órgãos de informação das Forças Armadas -como ocorreu na greve dos petroleiros, em maio.
O general Fernando Cardoso subordina-se a Eduardo Jorge, encarregado de coordenar o projeto de implantação da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).
Os dois têm pontos de vista diferentes sobre o papel de um serviço de informações, o que retarda a implantação da agência.
Eduardo Jorge preocupa-se mais com ações de longo alcance e os efeitos sobre o Estado. Já o general Fernando Cardoso considera que o Planalto não pode prescindir de um serviço que detecte movimentos e ações, especialmente dentro do próprio governo, que possam desestabilizar o presidente da República.
O general Fernando Cardoso segue linha semelhante à do SNI (Serviço Nacional de Informações), extinto em 90 pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Ele próprio foi membro do SNI e chefiou o CIE (Centro de Inteligência do Exército).
Os ministros militares criticam a postura de Eduardo Jorge. A cúpula das Forças Armadas acredita que se FHC tivesse a auxiliá-lo um serviço moderno e eficiente de inteligência, teria reduzido os estragos provocados pela crise do grampo.
As Forças Armadas acham que um bom serviço de inteligência teria evitado que na disputa pelo poder dentro do Planalto a PF (Polícia Federal) tivesse sido usada e atuado à margem do comando do Ministério da Justiça.
Eduardo Jorge nega diferenças com o general Fernando Cardoso e não acredita que um serviço de inteligência pudesse evitar a crise em torno do Sivam -que mobilizará, no total, recursos de R$ 4 bilhões, sendo R$ 1,4 bilhão na primeira fase.
"O governo não quer espionagem", diz o secretário-geral. Segundo ele, a Agência Brasileira de Inteligência ainda não foi criada porque o governo quer, antes, definir claramente a área de atuação.
A implantação da agência envolve a transformação da atual estrutura da Subsecretaria de Inteligência em autarquia -órgão autônomo e descentralizado do setor público, mas sujeito à fiscalização do Legislativo.
Alguns parlamentares querem que a indicação do chefe da ABIN e algumas ações do orgão sejam submetidas previamente à aprovação do Congresso.
Os ministros militares se inquietam com a disputa de poder entre os integrantes do círculo íntimo de FHC, basicamente Eduardo Jorge, Clóvis Carvalho (secretário-geral da Presidência), Francisco Graziano (presidente do Incra) e Sérgio Motta (Comunicações).
A Folha apurou que as Forças Armadas atribuem a Graziano a iniciativa de solicitar o grampo nas conversas telefônicas do ex-chefe do cerimonial da Presidência da República, Júlio César Gomes dos Santos.
Para tomar pé da situação, o serviço de informações do Ministério da Aeronáutica, com apoio informal do Exército, foi mobilizado.
São, novamente, os serviços das Forças Armadas que estão cumprindo o papel de colher informações para a Presidência.

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