São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma parceria com o Brasil

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Sinatra levou um susto quando o apresentaram a Roberto Quartin. À sua frente estava alguém que conhecia sua vida e sua obra mais do que qualquer outra pessoa. Desvanecido, abriu seus arquivos ao jovem carioca, então com apenas 23 anos e prestes a enriquecer ainda mais a sua incomparável coleção de discos, fitas e tudo mais que o cantor tenha feito desde o dia 12 de dezembro de 1915. Quartin não fora a Los Angeles só para conhecer seu ídolo pessoalmente. Fora, sobretudo, a trabalho. Era o produtor do histórico disco de Sinatra com Tom Jobim.
Criador de um selo (Forma) de fundamental importância para a bossa nova, Quartin já havia produzido nos EUA um disco de Tom com Stan Getz, "Jazz Samba", e o compositor não pensou em outro, quando Sinatra o convidou para gravar um LP em Los Angeles. Para os arranjos, nenhuma dúvida: Claus Ogerman, sugeriu Quartin. Era o nome que o cantor esperava ouvir, pois se familiarizara com a bossa nova e com o repertório de Tom ao ouvir "The Composer of Desafinado Plays", cujos arranjos o músico alemão fizera.
Hospedados durante mais de 15 dias na casa do cantor, Tom e Quartin trabalharam a maior parte do tempo à beira da piscina. Sempre afável, o anfitrião aceitou o repertório sugerido pelo produtor brasileiro, composto de dez músicas de Tom, afinal reduzido a sete no disco por exigência de uma lei que não permite mais de 70% de composições estrangeiras em gravações americanas. Por este motivo é que "Change Partners", "Bubbles, Bangles and Beads" e "I Concentrate On You" foram fazer companhia a sete obras-primas de Jobim.
"Sinatra só exigiu uma coisa: nada que possa lembrar Carmen Miranda, revela Quartin. Queria tudo "soft", intimista. E caprichou na maciez, durante as gravações, que duraram três noites seguidas, de 30 de janeiro a 1º de fevereiro de 1967.
Entusiasmado com a repercussão de "Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim", que naquele ano só perdeu em vendas para o "Sargeant Pepper's dos Beatles", o cantor agendou nova parceria. Gravado entre 11 e 13 de fevereiro de 1969, "Sinatra-Jobim" não pôde contar nem com Ogerman, preso a compromissos na Europa, nem com Quartin, preso a uma hepatite no Rio. A produção caiu nas mãos de Sonny Burke e os arranjos nas de Eumir Deodato. Nem todas as faixas agradaram o cantor e outras decepcionaram o compositor. Única unamidade: "Sabiá", absolutamente genial, segundo Quartin, que não entende porque nunca a lançaram em disco.
Embora até a capa já estivesse pronta, com o cantor encostado na traseira de um ônibus Greyhound, "Sinatra-Jobim" jamais chegou às lojas. Acrescido de alguns standards americanos, com arranjos de Don Costa, transformou-se num encontro do cantor com vários outros parceiros. Daí o título: "Sinatra & Co.".
Volta e meia, durante os ensaios do primeiro disco, Sinatra perguntava a Tom e Quartin detalhes sobre o Rio. Já estava, naquela época, com vontade de estender até aqui uma de suas frequentes turnês internacionais. Em janeiro de 1980, finalmente, ele veio. Deu cinco shows para grã-finos no hotel Rio Palace, em Copacabana, de onde só saiu na última noite para cantar no Maracanã, diante de 150 mil espectadores. Relembrou mais de 12 sucessos, inclusive "Strangers in the Night", que havia banido de seu repertório. "Virou música de gay", disse a Quartin, "mas vou cantá-la assim mesmo porque não posso recusar nada a esse público maravilhoso".
(SA)

Texto Anterior: No firmamento por dez anos
Próximo Texto: CRONOLOGIA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.