São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Filme retrata ex-vocal do Velvet Underground

Diretora alemã é premiada com documentário sobre Nico

JAIR RATTNER
DE LISBOA

Uma das personagens mais controversas do grupo de Andy Warhol foi transformada em tema de documentário. A vida da cantora e compositora Nico -conhecida pelo seu trabalho junto com o grupo Velvet Underground, de Lou Reed e John Cale- é o primeiro filme da alemã Suzanne Oftenringer.
Primeira obra de Suzanne, o filme está colecionando prêmios: ganhou o de melhor documentário em Valladolid, na Espanha, o de melhor primeiro filme europeu de 95, oferecido pela União Européia, o Grande Prêmio do Festival de Marselha, na França, e o Prêmio dos Críticos Alemães. Concebido para a televisão, a apresentação teve tanto sucesso que foi comprado pelas distribuidoras alemãs para passar no circuito comercial. Na Alemanha, a estréia do filme foi em outubro.
Para Suzanne, o segredo do filme é o ritmo. "Como era para passar na televisão, procurei criar um filme que não deixasse as pessoas mudarem de canal", conta.
Desde que terminou a montagem do filme, em maio, Suzanne está viajando para promover sua estréia. Na semana passada ela esteve em Lisboa para apresentar "Nico/Icon" no Festival de Cinema Documental da Amadora e num ciclo de cinema alemão de 1995, organizado pelo Instituto Goethe de Lisboa.
O filme é consequência do trabalho de final de curso de pós-graduação de Suzanne na Escola de Cinema de Colônia, na Alemanha. "Como a escola não tinha dinheiro para pagar a produção, gastei a verba em pesquisa sobre Nico", diz Suzanne. Depois de terminado o curso, Suzanne foi à luta para finalizar o projeto. Conseguiu um financiamento da televisão estatal alemã, a ZDF, que cobriu uma parte dos custos. O resto foi arrumando com pedidos de financiamento aos governos regionais alemães. No total, o orçamento foi de 300.000 marcos (cerca de 2 milhões de dólares). "Isso é muito pouco. Os direitos de autor de algumas das músicas são pagos por segundo", afirma.
Suzanne tinha como objetivo fazer um filme todo centrado nas músicas. Chegou a conseguir que John Cale tocasse uma música de Nico no piano, apenas para o filme. A escolha de Nico como tema do documentário foi por causa das músicas compostas e cantadas pela cantora. "Era a música que eu gostava de ouvir quando tinha 16 anos", lembra Suzanne, que tem 33 anos.
Nascida em 1938 em Colônia, na Alemanha, com o nome real de Christa Pfaeffgen, Nico foi modelo e atriz, antes de ser cantora. Viveu a guerra na Alemanha, tendo passado pelo existencialismo em Paris, Nova York nos anos 60, o movimento de vanguarda francês nos anos 70 e seus últimos anos na Inglaterra.
Ela começou como modelo por acaso. Foi convidada a posar por um fotógrafo que a viu enquanto olhava vitrines numa rua de Colônia, na Alemanha. Tornou-se uma das primeiros modelos a saltar para a carreira de atriz, tendo participado no filme La Dolce Vita, de Fellini, em 1959.
Em 1966, juntou-se ao grupo da fábrica de Andy Warhol -na época, o principal centro da vanguarda artística norte-americana-, de onde surgiram muitas das criações da arte pop. Foi Andy Warhol quem sugeriu Nico para ser vocalista do Velvet Underground.
Mesmo depois de separada do grupo, continuou com John Cale como produtor de seus discos. Nico morreu em 88 de hemorragia cerebral enquanto andava de bicicleta na ilha espanhola de Ibiza.

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