São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995 |
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Jogo envolve filão de US$ 20 bi
CLÓVIS ROSSI
É que se deduz de declarações do presidente da Raytheon, Dennis J. Picard, à revista "Earth Observation". Depois de afirmar que o sensoreamento remoto do meio ambiente vai se tornar essencial ao mundo em desenvolvimento, Picard informa: "Pretendemos ser líderes nessa nova área de mercado, que tem um potencial de US$ 20 bilhões pelos próximos 10 ou 15 anos". É esse filão que ajuda a entender a verdadeira novela de espionagem e contra-espionagem em que se transformou o projeto Sivam. Novela que envolveu uma coleção de autoridades norte-americanas, a começar do próprio presidente Bill Clinton, e pelo menos o ministro da Indústria e Comércio da França, Gerard Longuet. Clinton, como é óbvio, pressionava pela Raytheon e, Longuet, pela Thomsom, a firma francesa. Foram as duas que ficaram para a seleção final. A CIA (Agência Central de Inteligência) não poderia estar à margem do jogo. O jornal "The New York Times" informou, em fevereiro, que a CIA infiltrara-se do lado francês e obtivera informações de que a Thomsom teria oferecido "grandes propinas a funcionários brasileiros com poder de decisão". O governo brasileiro, pela boca do almirante Mário Cesar Flôres, reconhece que "as atuações dos governos francês e americano puderam ser sentidas na fase final da concorrência". Mas, para o almirante, foram "atuações" favoráveis aos interesses brasileiros porque a Raytheon melhorou as condições oferecidas, ampliando de cinco para oito anos o prazo de carência do financiamento e reduzindo os juros de 11% para 9% ao ano. A retaliação do governo francês veio na forma de expulsão de cinco cidadãos norte-americanos, apontados como os que se infiltraram na sua própria CIA (a DST - Direção de Vigilância Territorial). A vitória da CIA sobre a DST teve consequências no gabinete francês: Longuet, o ministro que viera fazer lobby pela Thomsom, foi forçado a pedir demissão e ainda responde a processo por corrupção. Pós-Guerra Fria A lista de nomes ilustres que tiveram envolvimento direto e indireto com o caso Sivam é eloquente, por mostrar as características que vem assumindo a diplomacia no pós-Guerra Fria. "Ganhar a 'guerra econômica' passou a ser questão crucial de segurança (dos Estados e das grandes corporações empresariais) e para tal fim todos os mecanismos, subsídios, custeios e agitada articulação de meios informatizados e outras sutilezas humanas serão postos em ação", descreve Clóvis Brigagão, do Conjunto Universitário Cândido Mendes (RJ). O nó do Sivam está resumido nessa frase. Ganhar essa batalha da "guerra econômica" está sendo considerado crucial pelo governo norte-americano. Mas fica a suspeita de que o que Brigagão chama de "sutilezas humanas" (forma discreta de apontar as supostas irregularidades no projeto) é que acabou decidindo os rumos da batalha. (CR) Texto Anterior: Até militares divergem sobre o projeto Próximo Texto: Empresa superfaturou nos EUA Índice |
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