São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995 |
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Desapareceram 75% dos filmes mudos
VINICIUS TORRES FREIRE
Isto é, 75% da produção do cinema mudo teria desaparecido. Ao ver a queima dos acervos na Paris dos anos 30, Henri Langlois e mais três amigos criaram a Cinemateca Francesa, em 1936, hoje considerada a segunda maior do mundo (atrás da russa). Langlois guardava os filmes, na época altamente inflamáveis, no banheiro. A primeira sede da cinemateca era um retiro de atores, onde vivia esquecido o cineasta pioneiro Georges Mélis (autor de "Viagem à Lua", de 1902, tido também como precursor dos efeitos especiais). A iniciativa de Langlois fazia parte de um movimento europeu pela preservação do filme. Em 1933, havia sido fundada a primeira cinemateca "profissional", em Estocolmo (Suécia). Em seguida vieram a cinemateca de Berlim (1934, criada pelos nazistas), a inglesa e a italiana. Em 1938, franceses, ingleses, norte-americanos e alemães criaram a Federação Internacional de Arquivos de Filme, para coordenar o trabalho de preservação no mundo todo. Hoje, a pesquisa e preservação de acervos de quaisquer tipos de imagem em movimento é um projeto oficial da Comunidade Européia, o Programa Media. Neste ano, o Programa Media publicou o primeiro catálogo europeu de centros de documentação de imagens - o "MAP-TV Guide Project", coordenado pelo Conselho do Filme e Vídeo das Universidades Britânicas. O objetivo é sanar um dos principais problemas da preservação e da pesquisa: saber onde estão e o que contêm os arquivos existentes. Cerca de 1.900 instituições foram recenseadas e descritas. O guia fornece as pessoas que podem ser contatadas em cada instituição, descreve as condições de pesquisa e tipo de acervo com filmes, vídeos, imagens em videodisco ou "qualquer outro suporte da imagem em movimento". A idéia de centralizar a informação sobre os acervos, em vez centralizar os próprios acervos, é exemplificada pela política de conservação praticada pela França. Em agosto deste ano foi criada a Federação Nacional das Cinematecas e Arquivos de Filmes, da qual participam 13 grandes cinematecas independentes. "Isso vai permitir que se faça um inventário comum, com a Cinemateca Francesa e com a Biblioteca da Imagem-Filmoteca. Também evita uma acumulação anárquica e ajuda a cultivar as diferenças", diz Gérard Alaux, diretor de patrimônio do Centro Nacional da Cinematografia (órgão oficial de apoio ao cinema, que também detém o acervo oficial da produção francesa, com 130 mil títulos). O objetivo da federação é fazer crescer os acervos de maneira complementar e facilitar a pesquisa e exposição dos acervos de maneira coordenada. As pequenas ou médias cinematecas possuem acervos centrados na produção local, contemporânea ou antiga. Por sua vez, a Cinemateca Francesa se preocupa com a "corrente principal" da produção. A instituição criada por Langlois programa cerca de 950 filmes por ano em festivais que podem ser dedicados desde a um ator ou diretor ou a um período de décadas de toda uma cinematografia (indiana ou egípcia, por exemplo). Além exibir seu acervo, a cinemateca também restaura uma média de 80 filmes de longa-metragem por ano. Os arquivos do Centro Nacional do Cinema do governo francês vai um pouco mais longe: coloca anualmente em condições de exibição cerca de 2.000 títulos de curta e longa metragem. A Cinemateca mantém o Museu do Cinema Henri-Langlois, que expõe roteiros, desenhos e cerca de um milhão de fotos, promove cursos e edita uma revista semestral. The MAP-TV Guide Project - British Universities Film & Video Council. 55 Greek Street London. W1V 5LR, United Kingdom. Tel.: (44 171) 734 3687. Fax.: (44 171) 287 3914. The MAP-TV Guide - Editora Blueprint, 1995 Texto Anterior: Cinema europeu vive crise existencial Próximo Texto: Cinemateca Brasileira recebe ajuda de empresas para manter seu acervo Índice |
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