São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995 |
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Fumaça global
WERNER E. ZULAUF A recente assinatura de um convênio entre a Prefeitura de São Paulo e a USP para previsão da meteorologia, com vistas ao controle da poluição atmosférica, entre outros objetivos, oferece aos técnicos que operam tais dados as mais variadas informações.Uma dessas informações me chamou a atenção em recente visita às instalações da FUSP/IAG (Fundação de Apoio a Universidade de São Paulo/Instituto de Astronomia e Geofísica), onde são processados os dados oriundos de várias fontes, inclusive de satélites. Refiro-me à mancha de fumaça gerada pelas queimadas da Amazônia que desce tangenciando os Andes até a latitude de Buenos Aires e, tomando a direção leste, segue pelo Oceano Atlântico nessa latitude, dando a volta ao mundo. Outros atestados da magnitude do fenômeno são o fechamento de aeroportos na Amazônia nessa época do ano por causa exclusiva da fumaça e o "Sol Laranja ao Meio Dia", no pantanal. Essas evidências marcam dois pólos extremos do momento atual: de um lado a causa do fenômeno, a medieval prática das queimadas precursoras da semeadura do ciclo agrícola e a criminosa destruição da floresta tropical úmida da Amazônia; de outro lado a mais avançada tecnologia detectando e monitorando o fenômeno primitivo predador do meio ambiente. A grande mancha de fumaça, capaz de provocar alterações climáticas somente pela interferência na propagação dos raios solares, é um alerta para as autoridades e técnicos do setor agrícola, que pouco se movem para ampliar experiências bem-sucedidas de plantio direto, onde a massa vegetal seca é mantida sobre o solo, interagindo com o mesmo e melhorando suas características físico-químicas e micro-biológicas. Outros setores do governo federal criaram o projeto Sivam, para monitorar a Amazônia. Entre muitos objetivos nobres, o projeto criaria condições para uma fiscalização mais efetiva das derrubadas e queimadas da floresta nativa. A inadimplência da gerenciadora -tudo indica que efetiva- não pode servir de pretexto para que se questione o projeto como um todo. Isso interessa mais a grupos que agem na sombra da legalidade. É imperativo que o projeto Sivam seja implantado, para que a avançada tecnologia não sirva só para o diagnóstico de problemas, mas seja também parte do instrumental corretivo de práticas medievais que ocorrem em larga escala na Amazônia, chegando ao extremo de produzir o que poderá ser um novo jargão de denúncia pela defesa do meio ambiente: fumaça global. Texto Anterior: Mau esconderijo Próximo Texto: Camponeses querem linchar irmãos no Rio Índice |
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