São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Camponeses querem linchar irmãos no Rio

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA FRIBURGO (RJ)

Moradores das áreas rurais de Nova Friburgo e Sumidouro (região serrana do RJ), que procuram os irmãos Ibrahin e Henrique de Oliveira junto com a polícia, querem linchá-los. A polícia não montou nenhum esquema para evitar que o plano se concretize.
Ibrahin, 19, e Henrique, 21, são acusados de matar nove pessoas e de praticar necrofilia (sexo com cadáveres) com sete das vítimas.
Eles estão sendo caçados nas selvas da região por 250 PMs e por moradores armados.
Eles chegaram a escolher a árvore onde pendurarão os irmãos caso consigam encontrá-los.
A árvore mede 3 m de altura e fica em frente ao armazém São Jorge, ponto de encontro dos cerca de cem lavradores que há uma semana percorrem as matas.
No armazém, ninguém admite deixar vivos os acusados.
"A gente já prendeu e a polícia soltou. Eles voltaram e mataram de novo. Agora a gente resolve", disse a lavradora Maria Sônia, 32, que conta ter sobrevivido a dois ataques dos irmãos.
Nem o 11º BPM (Batalhão de Polícia Militar) -situado em Nova Friburgo- nem o Bope (Batalhão de Operações Especiais) têm uma estratégia para evitar o linchamento.
Os camponeses e pequenos comerciantes que formam as milícias percorrem as florestas armados com espingardas, carabinas, revólveres e facões. O plano deles é capturar os irmãos vivos para levá-los até o armazém São Jorge.
"Aqui é com a gente. A polícia não vai se meter. O que eles fizeram é selvageria e selvageria se responde com selvageria", diz João das Neves, 49, agricultor.
O delegado titular de Nova Friburgo, Henrique Pessoa, 34, disse à Folha que não tem como desarmar os moradores da região.
"O bom senso diz que não se pode impedir que a pessoa se proteja", afirmou. Para Pessoa, a situação é "muito complicada". Ele demonstrou pessimismo quanto à possibilidade de os irmãos escaparem dos que pretendem linchá-los.
"Não tenho dúvidas que vai haver um justiçamento", disse.
O prefeito de Friburgo, Heródoto Bento de Mello, 71, oferece R$ 5.000 a quem der informações que levem à prisão dos irmãos. Ele diz que só paga se os irmãos forem presos vivos. "Isso aqui não é faroeste", disse o prefeito.

Texto Anterior: Fumaça global
Próximo Texto: Assalto a McDonald's na zona sul de São Paulo termina em tiroteio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.