São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Médico não sabe se revela doença à crianças

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O vidro de AZT que o menino Ricardo, 8, toma todos os dias, não tem rótulo. O médico diz que é vitamina A.
Ricardo tem Aids e, como 90% das 300 crianças tratadas no Hospital Emílio Ribas, não sabe que tem a doença.
No 2º andar do hospital onde são tratadas, a palavra Aids não é usada. Quando são medicadas, os prontuários onde consta o diagnóstico não ficam sobre a mesa. Muitas crianças sabem ler.
O dilema de revelar ou não à criança a doença que tem foi debatida no Simpósio Internacional sobre Aids Pediátrico que terminou ontem em São Paulo.
O médico James Oleske, do Hospital Infantil de New Jersey, EUA, diz que 40% das suas crianças já foram informadas que têm Aids. "Orientamos os familiares para que falem da doença com naturalidade", diz Oleske.
Segundo ele, as famílias se sentem aliviadas após a criança ficar sabendo. "Elas sentem que não precisam esconder mais nada."
A dificuldade aparece quando a criança conta aos amiguinhos de escola e acaba sendo discriminada e isolada, alerta o médico.
Cerca de 50 das crianças tratadas no Hospital Emílio Ribas já passaram dos oito anos e sabem ler. "A maioria sabe da doença, mas isso não é verbalizado", diz a médica Marinella Della Negra.
Vladimir Queiróz, também do Emílio Ribas, diz que há um "pacto" entre o pequeno paciente e a equipe que cuida dela. "Quando esse pacto é quebrado e a criança revela que sabe da doença, aí temos que ser o mais franco possível", diz.

Texto Anterior: Unicamp faz exame de corpo de preso morto
Próximo Texto: Intelectuais discutem a Aids
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.