São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Secretária ainda tem fama de 'rouba-marido'

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A secretária dele é a dedicação em pessoa: controla a agenda do escritório, paga as contas e anota recados. Quanto mais ela se empenha, mais se transforma em um fantasma para a mulher do chefe.
Apesar da profissionalização da categoria, a secretária ainda é vista como uma ladra em potencial de maridos. A relação com a "patroa" é sempre muito delicada -muitas secretárias acreditam em ciúme injustificado.
"Só pode ser paranóia. Não faz sentido alguém acreditar em estereótipos de secretária a essa altura do campeonato", diz Rose Abbondanza, 26, secretária-executiva há oito anos. "A possibilidade de perder o marido para a secretária é a mesma de perdê-lo para qualquer outra mulher", afirma.
A paisagista Lia Fernandes, 55, não pensa assim. Ela coordenou por um tempo as secretárias do ex-marido, um endocrinologista, e diz que virou PhD no assunto. "Conheci secretárias de todos os tipos. Da velhota ciumenta até a loira boazuda e a feia perigosa." A "velhota" foi um caso típico de "transferência". "Ela não tinha outra coisa para pensar na vida senão o escritório. Sentia ciúme até da máquina de escrever. Não deixava eu me aproximar do meu marido e tive de convencê-la a se aposentar", conta.
Algum tempo depois, Lia passou a coordenar o consultório por telefone, de casa. Foi quando apareceu a "loira boazuda". "Eu costumava ir ao consultório uma vez por semana, para ver como andavam as coisas, e meu marido sugeriu que eu desse um tempo", diz.
"Argumentou que tinha arranjado uma secretária muito eficiente, que falava várias línguas, batia bem à máquina e não se importava de fazer serão."
Lia ficou mais desconfiada do que propriamente feliz pelo marido. Um dia, resolveu aparecer de surpresa no consultório. "A tal secretária estava de microssaia, descalça, batendo um relatório. Tinha cabelão de Brigitte Bardot e se movia como uma garça", lembra.
Lia dispensou as provas "palpáveis" e espremeu o marido na parede. "Dei dois dias pedi para ele despachar a moça e arranjar outra." Ela só compara a "loira boazuda" à "feia perigosa". "A última secretária do meu marido tinha pernas de palito e nariz de plástica. Não dei importância para ela e os dois acabaram se casando", diz.
Muitas mulheres traídas acusam as secretárias, e muitas secretárias reclamam do patrão. Segundo uma pesquisa feita pelo Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo, 24% dessas profissionais já foram assediadas sexualmente.
"As mulheres partem do pressuposto de que seus maridos são lindos de morrer. Ninguém pensa como o assédio pode ser desagradável", diz a secretária Sônia Moraes, 36. "A gente deveria ganhar um extra para aguentar."
Para a empresária Sílvia Ravioli, 40, a melhor tática é ficar amiga da secretária do marido."Acho que uma mulher pensa duas vezes antes de trair alguém que confia nela", diz.
Sílvia acredita que a maioria das funcionárias prefere ser sua amiga, mas lembra de uma exceção. "Meu marido teve uma funcionária que queria ser dona do pedaço. Ela o convenceu a trabalhar do seu jeito e colocou uma porção de amigos na empresa. Eu avisei, mas, quando ele me ouviu, já era tarde."
Ser amiga da patroa pode ajudar, mas no caso da mulher do arquiteto João Armentano, Cristina, 32, a secretária exagerou. "Ela era muito metida", diz Cristina. "Interrompia reuniões para dar idéias, tratava os clientes com intimidade e a mim como coleguinha."
A moça foi mandada embora -o que prova que nem sempre a secretária pode tudo. Cristina garante que não tem influência nos negócios do marido, mas ele desmente. "Tem sim", diz João. "Uma pressão bem feita sempre dá resultados."

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