São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Os minoritários do Nacional

LUÍS NASSIF

Milhares de investidores do Banco Nacional adquiriram ações no ano passado, vítimas de um estelionato. O banco exibia balanços saudáveis. Aberta a caixa preta, vê-se um mar de irregularidades que jamais foi espelhado no balanço.
Convalidando o estelionato havia uma empresa de auditoria, paga a preço de ouro para produzir o balanço que os controladores lhe encomendavam. Da mesma maneira que no Banco Econômico, no Banespa e no Banco do Brasil (saliente-se que no caso do BB a atual diretoria teve coragem para rasgar a fantasia e assumir a verdade dos números).
Consumado o golpe, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, assume duas atitudes extraordinárias:
1) diz que o prejuízo dos acionistas minoritários faz parte dos riscos de mercado, como se não fosse responsabilidade de governo garantir balanços honestos;
2) não pronuncia uma palavra, muito menos uma atitude de condenação à empresa de auditoria que foi paga para produzir a farsa.
Como é que fica?
Repetição
Os executivos do Banco Nacional esbanjavam números reluzentes de desempenho tomando por base os balanços. Sustentavam que, sendo de igual dimensão, o banco tinha despesa operacional de US$ 80 milhões mensais, contra US$ 120 milhões do Unibanco.
Abertas as contas, descobre-se um universo de terceirização e de despesas não contabilizadas corretamente, que tornavam a operação do Nacional imensamente mais onerosa.
Também existem informações sobre operações de crédito que vinham sendo forjadas desde o Plano Cruzado (1986) e o Plano Collor (1990) -os dois momentos que ajudaram a liquidar o banco.
A operação
O cliente tomava 100. No vencimento devia 100 de capital mais 20 de juros, mas não pagava o banco. Em lugar de contabilizar a operação como prejuízo, o banco simulava uma renovação de juros e principal, emprestando contabilmente 120.
Os 20 de diferença entravam como resultado. Sobre uma operação-fantasma o banco distribuía dividendos aos acionistas e bônus de desempenho aos executivos.
A sofreguidão em se apropriar dos resultados do banco levou a direção a instituir uma política de comissões pagas na frente.
Vendia-se determinado produto a prazo, e se embolsava a comissão na frente. Logo, não havia a menor preocupação em minimizar os riscos da operação para o banco.
Sem provisão
Há ainda diversas operações vencidas no ano passado que nem sequer haviam sido provisionadas.
Tudo isto se dava aos olhos de uma empresa de auditoria internacional, que uma semana antes da quebra do banco convalidou um balanço que não apontava nenhuma dessas irregularidades.
O mínimo que se espera das autoridades é a inabilitação dessa empresa no Brasil; dos minoritários, um processo cavalar que obrigue a empresa a ressarci-los.
E do ministro Malan, o fim dessa retórica inábil, de eximir-se da responsabilidade por desastres tripudiando sobre o choro das vítimas.

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