São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Pesquisadores acham em moscas centro responsável por rito sexual

Cientistas obtêm macho que é atraído por ambos os sexos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sabe-se que todos os ritos da corte sexual na drosófila -a prolífica e pequenina mosca dos geneticistas- são geneticamente programados.
Sabe-se também que, nesse ato, só os machos são ativos, sendo totalmente passivo o comportamento das fêmeas.
Mas os geneticistas ignoravam, até agora, como se define a preferência ou escolha da fêmea pelo macho.
As técnicas disponíveis não lhes permitiam identificar as regiões cerebrais onde se situam os genes responsáveis pelo rito sexual.
Em estudo publicado na revista "Science" (267, 902), a equipe chefiada por Ralph Greenspan e por Jean-François Ferveur usou com êxito, para esse fim, uma técnica especial.
A técnica usada foi inspirada em experiências de Andrea Brand e Norbert Parsimon, que permitem feminilizar partes do cérebro do macho e, nessas partes, produzir genes que comandam os comportamentos próprios ao ato de cortejar e copular.
As técnicas, baseadas nas experiências de Brand, substituíram as outrora usadas, que eram muito trabalhosas e aleatórias.
Pela introdução de um gene de drosófila chamado "transformador", em condições especiais, Ferveur e Greenspan conseguiram feminilizar os tecidos em que ele é ativado.
Mas a ação feminilizante não se estende ao comportamento como um todo, pois os machos continuam machos, mas apenas se limitam às ações dos genes "ligados" ou ativados.
Chegaram, assim, a obter machos considerados como bissexuais, que são indistintamente atraídos pelos dois sexos.
Drosófilas bissexuais já haviam sido obtidas antes, por exemplo, mediante mutação em um gene chamado "infrutífero".
Mas não se conseguira ir além disso e descobrir o ponto cerebral onde se encontra o gene controlador e feminilizante.
Ferveur e Greenspan estudaram a distribuição da expressão do "transformador" em dois órgãos cerebrais, o lobo antenal -que recebe a informação olfativa- e o lobo cogumalo -que processa essa informação.
É compreensível a ligação com a área olfativa, porque a escolha da parceira depende provavelmente da percepção do feromônio (cheiro) da fêmea.
Entre as explicações aventadas para o comportamento bissexual figura a suposta incapacidade de os machos dotados de gene "transformador" distinguirem machos de fêmeas.
Explica-se esse fato pela existência, no macho adulto, de dois componentes que inibem a corte por outros machos.
Mas a feminilização do sistema olfativo pelo "transformador" pode inibir a capacidade de o macho distinguir os componentes inibidores, subtraindo, assim, a informação da fêmea sobre a masculinidade de seu possível par.
Para Greenspan, a explicação pode ser outra: as drosófilas acham todos os sexos atraentes em consequência de alteração provocadas pelo chamado gene "transformador".

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