São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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França terá jornada de greves e protestos

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

"A greve vai aumentar e piorar". O prognóstico e desejo é manifestado por Marc Blondel, secretário-geral da Força Operária, uma das três maiores centrais sindicais francesas e que incitou o movimento de greve geral na França.
Blondel disse à Folha, no entanto, ainda que retoricamente, que "não provocou a greve. Quem a provocou foi o primeiro-ministro Alain Juppé".
O líder sindical tido como o mais radical entre as grandes confederações de trabalhadores, está se referindo, no caso, ao que chama de "brutal pacote do governo sobre a previdência".
Para Blondel, o conjunto de medidas de reforma da Previdência Social francesa de Juppé é pensado para baixar a taxa de juros por meio do corte do déficit público.
Mas as palavras de Blondel servem para explicar como um movimento que começou como um protesto isolado contra a mudança do regime de aposentadoria do funcionalismo e de estatais pode parar de vez o país semana que vem. Ou mesmo desestabilizar o governo.
Após o pacote da previdência, o governo continuou a anunciar ou acenar com medidas que indignaram quase todo o setor público (a princípio, a greve se restringia praticamente aos ferroviários).
Nos EUA, o ministro das Telecomunicações, François Fillon, anunciou a desregulamentação próxima do mercado de telefonia e a privatização da estatal France Telecom. Fillon foi negociar também a futura associação da Telecom com uma empresa dos EUA.
Em Bruxelas, Bélgica, uma das instâncias do governo europeu, negociadores franceses aceitaram a flexibilização do mercado francês de energia.
Para piorar, o ministro das Finanças anunciou que o imposto do pacote para cobrir o déficit da previdência não será dedutível dos salários -isto é, vai pesar mais sobre os menores rendimentos.
O anúncio começou a aproximar a Confederação Francesa Democrática do Trabalho, a central mais conciliadora entre as três maiores, da Força Operária e da CGT.
Isto é, em uma semana, o governo uniu os 5 milhões de funcionários públicos franceses (23% da força de trabalho ativa do país) contra si. Com a radicalização do conflito estudantil, sem saída à vista há oito semanas, agora vai enfrentar um protesto social unificado, marcado para começar na terça-feira, com uma jornada nacional de greves e protestos.

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