São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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'Hebron é mais difícil que Jerusalém', diz palestino

HELIO GUROVITZ
DO ENVIADO ESPECIAL

Hebron, na Cisjordânia, é talvez o maior desafio do processo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina.
"Jerusalém é fácil de resolver. Hebron é muito mais difícil", afirma o palestino Khalil Tufakdji, da Sociedade de Estudos Árabes.
Primeira capital do judaísmo, é em Hebron que ficam os túmulos dos patriarcas, sagrados para judeus e muçulmanos, numa gruta conhecida como Machpelá.
Na caverna, há uma mesquita muçulmana, e uma divisão separa fiéis das duas religiões.
Pelos acordos de paz, o controle sobre a cidade deve passar em breve para os palestinos.
Hebron foi o local onde Israel implantou sua primeira colônia, em 1967, logo após conquistar a Cisjordânia na Guerra dos Seis Dias. Como todas as colônias, Kiryat Arba fica num ponto estratégico: uma colina sobre a cidade.
Colonos judeus de Hebron fundaram nos anos 70 o primeiro grupo radical favorável à anexar a Cisjordânia, o Gush Emunim.
Mesmo enfraquecido, o grupo continua ativo. Seu líder, Noam Arnon, lembra que em 1929 a população árabe fez um pogrom (perseguição) que exterminou toda a população judaica do local.
Mas o maior problema são os cerca de 400 judeus que vivem no centro da cidade. Armados, dizem que jamais sairão do local sagrado.
"Os extremistas só serão encorajados pelo sucesso dos assassinos de Yitzhak Rabin", diz Ygal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Mesmo assim, Israel afirma que não vai retirar os moradores das colônias na Cisjordânia. "Eles serão uma minoria sob a autoridade palestina, e o Exército vai garantir sua segurança." Por isso, colonos têm direito a andar armados.
Na colônia de Kfar Tapuach (ao sul de Nablus), mora o líder do grupo Kahane Vive, proibido depois do massacre cometido por Goldstein, um de seus membros.
Benjamin Kahane é filho de Meir Kahane, rabino americano-israelense que pregava a expulsão dos palestinos e anexação da Cisjordânia, assassinado em 1990.
O filho se diz disposto a defender as idéias do pai com armas, ainda que isso signifique enfrentar Israel. Membros do Kahane Vive treinam com armas e uniformes.
Segundo Palmor, os 120 mil colonos não são homogêneos. A 5 km de Kfar Tapuach fica Ariel, colônia com 10 mil habitantes. "Foram para lá porque as casas eram baratas. Há até eleitores dos trabalhistas (favoráveis a devolver a área)."

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