São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Os ricos também sofrem

À primeira vista, as recentes paralisações parciais nos governos da França e dos Estados Unidos têm motivos completamente distintos.
A greve do funcionalismo francês, que completou oito dias nesta sexta-feira, é um protesto contra o plano de reformas do sistema social com o qual o governo do primeiro-ministro Alain Juppé pretende reduzir o déficit público.
Há duas semanas, nos Estados Unidos, a paralisação de seis dias dos serviços federais não-essenciais foi ordenada pelo governo, constrangido legalmente pelo impasse na aprovação do Orçamento de 96.
Em ambos os casos, o que está em disputa é a definição de quem pagará a conta do ajuste do setor público. Trata-se portanto de uma mesma questão, em verdade de um problema quase universal.
Do pós-guerra ao final da década de 60, os gastos públicos na Europa e EUA impulsionaram o crescimento econômico e ainda permitiram acomodar vários interesses. O aumento da dívida do Estado, porém, finalmente gerou inflação.
A partir dos anos 70, o combate ao déficit voltou a ganhar força. Mas, se existe razoável consenso sobre a necessidade de equilibrar as contas do Estado e estancar seu endividamento, há divergências e conflitos de interesse quanto ao modo de alcançar tais fins.
Do Congresso, a oposição republicana nos EUA incluiu no Orçamento cortes na área de educação, menores impostos sobre o capital, aumento das contribuições para a Previdência e redução dos benefícios. O Executivo vetou. As iniciativas do governo francês são similares às da oposição norte-americana: congelar os salários do funcionalismo em 96, segurar gastos com educação e seguridade social.
Pouco importa que, nos dois países, governo e oposição estejam em posições invertidas. O impasse é o mesmo. E mostra que a resistência na distribuição de perdas não é exclusiva dos brasileiros.

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