São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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galã caipira

CRISTINA ZAHAR

Patrick Swayze, o galã romântico de "Ghost - Do Outro Lado da Vida", é avesso a rótulos. Embora seja mais conhecido por seus papéis em filmes de aventura, aceitou o desafio de encarnar uma drag queen em "Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar", em cartaz em circuito nacional desde a última sexta (1.º). "Procurei me tornar uma mulher e não interpretar um homem de vestido", disse o ator em entrevista exclusiva à Revista da Folha, quando esteve no Brasil para lançar a fita. Aos 42 anos, Swayze mantém a forma -76 kg e alegados 1,80 m- como mais gosta: montando cavalos árabes. A paixão foi herdada do pai, ex-caubói, e da infância passada em Houston, Texas (sul dos Estados Unidos). Casado com Lisa, dançarina e parceira em alguns filmes, detesta a vida badalada dos astros de cinema. "Trabalhei muito para chegar aonde estou. Mas, no fundo, sou o mesmo caipirão que cresceu no Texas", resume.
Como foi viver uma drag queen?
Depois de pesquisar o universo das drag queens, descobri que elas têm muita dignidade. Tanto que muitas viraram grandes amigas. Ser gay na sociedade atual requer uma grande busca interior. Você tem que se sentir bem, procurar saber quem é. Para compor miss Vida, procurei me tornar uma mulher e não interpretar um homem de vestido.
Foi difícil?
Muito, principalmente porque queria que meu personagem fosse uma metáfora da vida. As pessoas têm o direito de ser felizes, independente de raça, cor ou preferências sexuais.
Faria um show como drag queen?
Se fosse um personagem, claro. Muitos me disseram que eu era louco de viver uma drag queen. Mas, como ator, era um desafio. Eu me perguntava se seria capaz de fazer com que o mundo se apaixonasse por miss Vida, esquecendo que era o Patrick Swayze de vestido.
Como os EUA receberam o filme?
Ficou três semanas no topo da bilheteria. Isso talvez signifique que estamos aprendendo a ser tolerantes. O filme mistura comédia, fantasia e drama. Nesse ponto, é diferente de "Priscilla - A Rainha do Deserto". Quando o vi, fiquei deprimido. "Para Wong Foo..." celebra a vida.
Você conheceu Julie Newmar?
Sim. Ela tem 61 anos e é maravilhosa. Eu a vi como a mulher-gato quando era adolescente e a considerava a mulher mais linda do mundo. Como miss Vida, me inspirei em Lana Turner, Greta Garbo e Lauren Bacall. Também tive que trabalhar minha voz. Mas o maior referencial foi Audrey Hepburn.
Acha que pode ser indicado ao Oscar por esse papel?
Procuro não pensar nisso. Acho que viver em função de um objetivo exterior não vale a pena, pois sua alma não está mais ali. Quero ser o melhor ator que puder. Seria maravilhoso ganhar um Oscar, mas não vivo em função disso.
Como escolhe seus filmes?
Sempre pelo que diz meu coração. Quando os estúdios descobrem que você quer fazer algo pelo sentimento, tentam manipulá-lo. Acho que sempre terei dinheiro. Por isso, sigo meus instintos. Me sinto bem de não viver conforme o padrão Hollywood, de pensar em quanto um filme vai faturar. Prefiro pensar no que ele pode trazer ao mundo.
O que é ser ator?
É ser um modelo. Por isso não quero ser rotulado como o ator de filmes de aventura, o galã ou o bailarino. A única maneira de evitar isso é fazer coisas diferentes.
O Jack de "Três Desejos" é uma espécie de anjo zen, mistura de "Ghost" e "Caçadores de Emoção". Você prefere papéis assim?
Jack foi escrito de maneira zen. Como ator, não posso interpretá-lo como místico e sim como um ser de carne e osso. O personagem no filme não é o anjo que conserta o mundo: ele abre portas para as pessoas descobrirem mágica em suas vidas.
Acha que escolhe esses papéis por causa da religião?
Sim. Mas não sei a qual religião devo isso. A filosofia oriental sempre me intrigou, o hinduísmo, o islamismo. Fui criado como católico, mas creio que sou mais espiritualista do que religioso. Para mim, as organizações destroem as filosofias. Quando se trata da sobrevivência

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