São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Presidente elogia história de 'luta' do jornal e lembra convite para colaborar

Leia a íntegra do discurso do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Sr. vice-presidente da República, senador Marco Maciel; senador Sarney, que preside o Senado; presidente da Câmara, deputado Luís Eduardo; presidente do Supremo, ministro José Paulo Sepúlveda Pertence; governador de São Paulo, Mário Covas; meu amigo Octavio Frias; ministro Domingo Cavallo, ministro da Economia da Argentina; prefeito de São Paulo, Paulo Maluf; srs. ministros de Estado que aqui estão; srs. senadores, deputados; empresários dos vários setores, especificamente de Comunicação; srs. jornalistas; fotógrafos; sras. e srs.
Eu creio que é sabido que o presidente da República em certas circunstâncias deve ser solene, mas eu não gosto de ser solene. Eu gostaria que, nesse momento tão grato para nós, vendo a opulência paulista nos helicópteros, pudesse me dirigir aqui, nesse almoço de confraternização, como um cidadão, como uma pessoa, como um amigo. E pedir autorização ao Frias para contar um pequeno episódio que eu acho que mostra bem algo do que o governador Mário Covas mencionou e que nós todos sentimos, que é justamente o avanço da democracia, o qual o Jô insistiu nele, e o papel da informação.
Não eram épocas das mais brilhantes a época à qual eu vou me referir. Foram os anos 70. Tínhamos alguns problemas. Alguns de nós tínhamos muitos problemas. E um querido amigo meu e do Frias, que está aqui presente, Carlos Lemos, que é lá de Ibiúna -toda gente sabe que aqui nós temos uma comunidade de amigos que costumava, eu costumava, eles costumam ainda, passar o fim de semana em Ibiúna-, insistia muito para que eu chegasse até o Frias, que já era naquela época uma figura marcante nos meios de comunicação de São Paulo.
Eu não tinha essa experiência -professor universitário, vivendo sempre lá entre os livros, aqui ou às vezes fora daqui ou mais longe ainda que tudo isso- de me acercar de pessoas tão influentes e poderosas. E Carlos é testemunha disso. Em mais de uma ocasião, ele insistia. Até que um dia ele passou lá, à tarde, no Cebrap, onde eu trabalhava, e disse: Vamos lá ver o Frias. E eu fui. E lá encontrei um outro querido amigo que, infelizmente, não está conosco, o Cláudio Abramo. E tivemos uma conversa. Eu não me lembro exatamente quando foi o ano. E o Frias, pela inteligência que é reconhecida nele, por nós, me encantou. Rápido, sabia tudo, tinha informações, replicava, me fascinou realmente e perguntou se eu aceitaria colaborar na Folha. Isso não era muito habitual, sobretudo naquela época. Sobretudo para quem, como eu, não tinha direitos políticos plenos. Eu não cheguei a hesitar. Eu disse que sim. Nem perguntei quanto me pagaria. Naquela época, publicar era uma paga mais do que suficiente. Depois valeu mais do que isso, valeu uma amizade que cobre o que não foi pago em dinheiro.
O Frias, foi um gesto dele, ele acho que antecipava pouco depois houve uma confusão no Brasil. E entrou em cena o Boris, que passou a ser o redator-chefe. O Cláudio saiu da chefia, mas o Frias, o Cláudio e o Boris sabiam, como eu sei, que aquilo foi feito para preservar a possibilidade de nós termos uma informação mais aberta e do jornal poder continuar a ser um instrumento de comunicação, até mesmo para os que estavam naquele momento à margem do poder. E o Frias agora me disse o que nunca me havia dito, que aquela noite ele levou um susto porque eu aceitei. E não era fácil. Aceitar era fácil, mas convidar não era fácil.
Eu acho que a homenagem que o cidadão que hoje preside a República pode prestar ao Frias e ao jornal é contar essa pequena história, que mostra que, para se chegar a isso que nós estamos chegando hoje -daqui a pouco eu vou apertar, não sei se é um ou quatro botões, cada um, US$ 20 milhões, todo mundo sabe que eu sou pão duro, o Frias também é, vou de luvas-, mas, para chegar-se a isso, não foi fácil. É muita luta. Não é fácil fazer a acumulação de recursos necessários, manter a independência, passar por um regime que não é plenamente democrático, ajudar a consolidação de um regime democrático, preservar a amizade e a independência entre as várias esferas, a política e a pública. Tudo isso é o que nós hoje estamos aqui nesse almoço de confraternização comemorando.
Eu queria dizer mais uma palavrinha só. É que, além disso, além dessas virtudes que todos reconhecemos no Octavio Frias, ele foi capaz de construir os sucessores. Tarefa difícil a passagem de geração. E é preciso também deixar marcado que é isso que dá continuidade à obra.
Então, eu não queria senão trazer esse meu depoimento e dizer que, para São Paulo, já falou o Mário Covas, é um momento de grande significado. E eu quero dizer, como presidente da República, que é para todos nós brasileiros um momento importante, o de vermos este jornal crescer. E eu espero que nós possamos seguir adiante, mantendo esse mesmo espírito com democracia, com a informação livre, respeitando-nos mutuamente e fazendo com que dessa convivência todos nós saiamos ganhando, como até agora.
Muito obrigado.

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