São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Custo original do Sivam era 57,1% menor

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) deveria custar 57,1% do preço atual (US$ 1,4 bilhão) e ser desenvolvido pelo Brasil, de acordo com o projeto original do Ministério da Aeronáutica.
O coordenador dos primeiros estudos, brigadeiro Ivan Frota, disse à Folha que a proposta original sofreu alterações no preço e nos objetivos por influência de empresas privadas. Frota, na reserva, enviou carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso há sete meses aconselhando que não contratasse a empresa Raytheon.
"Se esse contrato for assinado, estaremos oferecendo a um determinado país não só gratuitamente, mas, o que é pior e profundamente irônico, pagando uma astronômica quantia, um instrumento de valor estratégico incomensurável", escreveu Frota ao FHC. Mesmo com a carta encaminhada em abril deste ano, o Palácio do Planalto deu prosseguimento ao projeto.
Frota foi escolhido, em 1990, no governo Fernando Collor para elaborar os primeiros estudos de um sistema de controle e vigilância do espaço aéreo da Amazônia.
A pedido do então ministro da Aeronáutica, Sócrates Monteiro, Frota trabalhou com a empresa Esca no então batizado projeto Vigilam (Vigilância da Amazônia).
O projeto original previa gastar entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões para implantar na Amazônia um sistema de radares.
O projeto seria desenvolvido, o máximo possível, no Brasil, em dez anos. "A implantação seria mais lenta, e o projeto, menos sofisticado", diz o brigadeiro.
O Vigilam foi aprovado, ainda em 1990, pelo ministro Sócrates Monteiro e por Collor. Segundo Frota, ainda naquele ano a Aeronáutica decidiu entregar o projeto para a Esca aprofundar os estudos.
"Empresas internacionais foram consultadas informalmente, e, a partir daí, o projeto foi deturpado por influência delas, tanto no preço quanto nos objetivos", diz o brigadeiro.
Ele faz questão de afirmar que é a favor do Sivam, mas contra o processo que está sendo conduzido atualmente. "Resolvi falar agora sobre o Vigilam (projeto reservado da Aeronáutica) porque está na hora de revelar a verdade", diz.
Na época em que comandou os estudos do Vigilam, o brigadeiro era presidente da comissão de Implantação do Cindacta (órgão de controle e defesa do espaço aéreo) e diretor de Eletrônica e Proteção ao Vôo da Aeronáutica.
Segundo Frota, o interesse dos militares no Sivam era somente vigiar o espaço aéreo da Amazônia contra possíveis invasões estrangeiras e estabelecer maior controle sobre a região para combater a expansão das reservas indígenas.
Pretexto
"Colocamos a questão do controle da floresta como pretexto para sensibilizar a comunidade internacional, mas o importante eram os radares para controlar o espaço aéreo", conta. Essa tática, segundo ele, levou à inclusão, no projeto original, do controle dos recursos naturais por satélites.
"Era uma questão menos importante, mas, quando o projeto passou para a Esca e as empresas estrangeiras começaram a fazer sugestões, foi incluído um sistema mais sofisticado, o sensoriamento remoto (controle por intermédio de radares acoplados em aviões)", diz o brigadeiro.
Frota diz, no entanto, que o projeto foi alterado quando passou a ser feito na Esca, causando um aumento de 133% nos preços.

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