São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Conheça a carta de Frota

Leia abaixo trechos da carta enviada pelo brigadeiro Ivan Frota ao presidente Fernando Henrique Cardoso, datada de 14 de abril de 1995.

"Se esse contrato for assinado, estaremos oferecendo a um determinado país (Estados Unidos), não só gratuitamente, mas, o que é pior e profundamente irônico, pagando uma astronômica quantia (financiada em condições atrativas pelo país interessado), superior a US$ 1,3 bilhão (excluídos os juros futuros), um instrumento de valor estratégico incomensurável.
"Tal fato dará a esse país acesso global a toda a região amazônica sul-americana para acompanhamento eletrônico permanente de elementos informativos vitais para seu controle, tais como: circulação aérea formal e clandestina; movimentos terrestres significativos (mormente na área fronteiriça); monitoração das reservas indígenas e florestais, com o controle das atividades nômades e das queimadas, respectivamente; pesquisa privilegiada do maior acervo de biodiversidade do planeta; e, o que é profundamente mais sensível e ambicionado pelos países ricos, a identificação e exata localização do infinito potencial de minerais nobres e preciosos de seu subsolo, através de técnicas de sensoriamento remoto, somente possíveis por sobrevôos a médias e a baixas altitudes.
"Quem lhe escreve, senhor presidente, é um cidadão que conhece o assunto razoavelmente bem e que, na realidade, deu os primeiros passos para a concepção de tal sistema, o qual, inicialmente, recebeu o nome de Vigilam. Tal sistema tinha a estrita visão de viabilizar um crescimento acelerado e, ao mesmo tempo, uma adequada proteção da região contra sua penetração clandestina e exploração predatória por interesses escusos nacionais e, principalmente, internacionais. A concepção original previa, ainda, uma filosofia de implantação gradativa, com aproveitamento exaustivo das possibilidades nacionais (mesmo que não fossem as mais sofisticadas) e uma sensata aplicação de recursos financeiros, na sua primeira fase (cerca de 500 a 600 milhões de dólares em dez anos). Tal concepção não incluía, ainda, a atividade de sensoriamento remoto para a pesquisa mineral (que hoje é o atrativo principal para os interesses internacionais).
"Acredito na pertinência da concepção básica do Sivam (...). Discordo, porém, da forma como está sendo encaminhada sua implementação, que, a ser continuada, significará uma perigosa vulnerabilidade para a soberania e a integridade territorial de nosso país.
"(...) O problema do contrato Sivam não se resume em saber se a Raytheon ou a Esca são idôneas e capazes ou se houve suborno de autoridades para obter-se a preferência de empresas que foram escolhidas sem licitação regulamentar ou, ainda, se foram dadas propinas para parlamentar facilitar a aprovação do contrato no Senado (...). Ou, finalmente, se houve pressão irresistível de 'lobby' aplicado por presidente de país interessado.
"O grande problema, repito, é a imensa vulnerabilidade estratégica de que nosso país será passível, se tal empreendimento for contratado à empresa estrangeira, de forma global e integrada, como está sendo, atualmente, pretendido.
"Senhor presidente -se sua caneta chancelar tal documento, estará, certamente, registrando para a história a autoria do maior desastre político e estratégico da vida da sofrida e amada nação Brasileira."

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