São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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FHC fará o que o Senado decidir, diz ACM

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai acatar a decisão da supercomissão do Senado sobre o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), segundo o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente da supercomissão.
Anteontem, a Folha informou que a tendência da supercomissão é condenar o projeto e recomendar a FHC que abra licitação para a escolha da empresa que vai tocar o projeto. "O presidente acata, com certeza, a decisão do Senado", afirmou ACM.
A declaração de ACM foi feita ontem em São Paulo. O senador baiano disse ainda que tem conversado sobre o assunto com o presidente da República. "O presidente está disposto a fazer aquilo que for certo", relatou.
ACM quer "apressar" a solução para o caso Sivam por entender que a polêmica em torno dos radares está prejudicando a velocidade das reformas constitucionais.
"Infelizmente, as reformas estão paralisadas no Congresso", acha o senador, que criticou o governo pelo surgimento da crise do Sivam. "O caso não foi criado pelo Congresso", ironizou.
O imbróglio Sivam ganhou corpo depois da revelação de que a Polícia Federal, com autorização da Justiça, fizera escuta telefônica na casa do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, à época chefe do cerimonial da Presidência.
Francisco Graziano, que presidia o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), é suspeito de ter arquitetado a escuta. Graziano perdeu o cargo.
Mesmo cauteloso ao falar sobre a decisão do caso, ACM declarou que o cancelamento do contrato é hoje uma possibilidade real. "Se tiver irregularidade, é lógico que vamos pedir o cancelamento", disse.
O líder pefelista também deu uma estocada no governo ao reclamar de morosidade na regulamentação das reformas já votadas no Congresso. "Não se fez nada ainda na Petrobrás, nas telecomunicações e mesmo na cabotagem", acha ACM.
ACM insistiu em diagnosticar uma paralisia quase que total do Congresso depois da eclosão da escuta telefônica e, consequentemente, da suspeita de tráfico de influências para favorecer a empresa norte-americana Raytheon, escolhida para implantar o projeto.
"Um assunto episódico como esse não pode atrapalhar tanto a reforma constitucional", afirmou.
FHC já anunciou que convocará o Conselho de Defesa Nacional para analisar a situação do Sivam. ACM, ao responder se poderia haver divergência entre a opinião do conselho e a da supercomissão, apostou no poder do Senado.
"É óbvio que prevalece a decisão do Senado. É o Senado quem dá o crédito para o projeto", disse.
A implementação do Sivam depende de empréstimo externo, que obrigatoriamente tem de ser autorizado pelos senadores.
Nos bastidores, o governo tenta encontrar uma saída que permita o cancelamento de contrato com a Raytheon sem que, com isso, se indisponha com os militares. A Aeronáutica já deixou claro que não aceita a revisão do contrato.

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