São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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PM matou dois reféns durante ação, revela laudo

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Laudo pericial divulgado ontem indica que o segundo refém que morreu em uma ação do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) no desfecho de uma tentativa de assalto no Morumbi também foi morto por um policial militar.
A perícia do IC (Instituto de Criminalística) chegou a essa conclusão após o cruzamento de exames feitos em um fragmento de bala, colhido na madeira onde estava encostada a cabeça do operário João Correia Sobrinho, com os exames das trajetórias dos tiros efetuados no barracão onde dois ladrões mantinham 18 reféns.
Na semana passada, um outro laudo do IC havia concluído que o operário Osmar Moura do Nascimento também foi morto por um PM. Em seu crânio, foi achada uma bala 9 mm de uma submetralhadora HK, usada pelo Gate na ação e que não foi enviada para perícia.
Durante a tentativa de assalto, os ladrões mantiveram os operários como reféns, desde a tarde do dia 7 de novembro até a madrugada do dia seguinte, quando PMs do Gate invadiram o cativeiro. Os ladrões e dois reféns morreram.
No final da operação, o então comandante do Gate, capitão Wagner Cesar Gomes de Oliveira Tavares Pinto, afirmou que a invasão só aconteceu porque houve o disparo de um tiro -segundo ele, por parte de um dos ladrões-, que matou um refém.
Utilizando um microscópio eletrônico, que fez uma análise de composição, o IC constatou que o fragmento encontrado na madeira, onde havia vestígios de sangue e cabelos, é de uma bala 9 mm.
Segundo peritos do IC, o que prova ser um PM o autor do disparo que matou Sobrinho é a trajetória do tiro. Na madeira, há uma sequência de oito buracos, feitos pela rajada de uma submetralhadora.
Além disso, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) mostra que Sobrinho não foi morto à queima-roupa. Isso afasta a possibilidade de ele ter levado um tiro da pistola 9 mm que estava em poder de um dos assaltantes.
Segundo o laudo, o atirador da PM que matou Sobrinho tinha visão do local de cativeiro porque ele estava em cima de uma pilha de madeira em um depósito ao lado. Seu ângulo de visão era de cima do telhado. A arma estava atrás da parede de madeira.
Sobrinho estava sentado no chão, com a cabeça encostada na parede de madeira. Um dos assaltantes, Valteran Fernandes de Moura, que portava a pistola 9 mm, estava sentado em uma prateleira perto do refém. É provável que o PM tenha errado o alvo, uma vez que Moura não recebeu nenhum tiro daquela rajada.

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