São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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McLaren vem ao Brasil mostrar seu 'Paris'

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Criador da banda punk inglesa Sex Pistols, que na segunda metade dos anos 70 sacudiu o cenário pop internacional, Malcolm McLaren, 47, está no Rio para lançar seu álbum "Paris" (gravadora RGE/Paradise).
Autor de letras e, principalmente, diretor musical, McLaren canta pela primeira vez. Com influências do jazz, seu álbum é uma homenagem a Paris, "uma visão turística da cidade".
Ele reúne surpresas, como a atriz Catherine Deneuve cantando e uma nova versão de "Je táime... moi non plus", sucesso do ícone da cultura francesa Serge Gainsbourg, já morto.
Lançado ano passado em Londres, "Paris" foi boicotado pelas rádios, segundo ele. Não engoliram um inglês falando de Paris. "Na minha idade, se você pretende ser controverso, este é o único caminho." A seguir, trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - Continua fazendo sentido ser punk hoje em dia?
Malcolm McLaren - Claro que sim, porque se você hoje viaja pela América, a influência do punk é visível. Muito mais agora do que há 20 anos. Sem o Sex Pistols, muito do estilo punk não existiria.
Folha - Mas você continua gostando da música punk?
McLaren - Sim. Para ser honesto, não acho que faria de novo, mas quando você é cercado por esse sentimento, é uma forma de estar fora (do sistema), porque é muito forte, agressiva, como os jovens querem.
Folha - Qual o público que você quer atingir com "Paris"?
McLaren - É uma viagem por Paris. Este álbum foi feito porque tenho morado em Paris, indo e vindo, por 20 anos. Paris é como uma amiga. Este álbum foi uma forma de fazer um casamento, de fazer sexo, de fazer parte dela. E o fiz como turista, não como parisiense. A maioria dos parisienses nunca faria um álbum como esse, porque pra eles Paris é um lugar qualquer, agressivo, devagar. Eles não vêem o romance.
Folha - A influência maior é do jazz, não?
McLaren - Se tenho que pensar sobre Paris, tenho que pensar o que ela é musicalmente. E se você caminha por um monte de ruas em Paris, é muito baseado em jazz. Músicos americanos de jazz, como Miles Davis, Quincy Jones, Charlie Parker e Chet Baker, todos encontraram uma casa em Paris depois da Segunda Guerra.
Folha - Por que Catherine Deneuve cantando?
McLaren - Porque se você pega todos os africanos, árabes, brasileiros, músicos de jazz de Paris, então você tem que ter a cereja para fazer um grande bolo. Ela foi a cereja do meu bolo.
Folha - Serge Gainsbourg é pouco conhecido aqui. Nosso cenário musical é influenciado pelos EUA e Inglaterra. Neste sentido, você não acha que pode ter problemas aqui para divulgar o seu álbum "Paris"?
McLaren - As pessoas querem ser sempre surpreendidas. Caso contrário, a sua cultura não avança. Se algumas vezes você aparece com algo completamente novo, que não é típico, da moda, é bom porque empurra a cultura pra frente. Eu não gosto de fazer o típico. Foi um grande escândalo para um inglês fazer um álbum sobre Paris. Na minha idade, se você pretende ser controverso, este é o único caminho. Desde que este álbum foi lançado em Londres, no ano passado, a rádio nunca tocou.

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