São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem medo de se fundir

A incorporação do Banorte pelo Banco Bandeirantes surge como o primeiro evento na área bancária não-traumático dos últimos meses.
Depois das intervenções em bancos estaduais, no Econômico e da controvertida operação de transferência do Nacional para o Unibanco, desta vez a operação teve um mérito indiscutível, que curiosamente talvez até ajude a explicar seu caráter não-traumático: o Banco Central foi um dos últimos a saber.
A nova instituição parece surgir mais com os olhos postos no futuro do que como resultado de ineficiências acumuladas. Ou, pelo menos, que não foram acumuladas a ponto de exigirem a interferência direta do BC, que, nos vários casos ocorridos em 1995, não primou pela presteza nem pela transparência ou pela positividade.
Em 94, separados, o Bandeirantes ocupava a 29ª posição e o Banorte, o 33º lugar no ranking dos bancos por ativo total. A nova instituição passará ao 14º lugar, com um total de 201 agências e 410 postos de atendimento. Parece portanto nítido que por meio dessa fusão o sistema bancário como um todo ganha em robustez e estabilidade.
Ainda não está decidido se nessa operação o Bandeirantes lançará mão das facilidades do Proer. É muito provável que o faça. Mas o próprio programa do BC ganharia em legitimidade, neste caso, justamente pelo fato de se ter chegado a um acordo sem traumas, sem paralisação de atividades e, principalmente, sem qualquer forma de intervenção federal desastrada.
A vantagem das fusões sem traumas é que podem tornar mais confiável uma eventual injeção de recursos fiscais, pois trazem expectativas de retorno no médio prazo para o Tesouro e para a sociedade.
Ao mesmo tempo, o processo de fusão no Brasil assemelhar-se-ia aos de outros países, onde se trata de ganhar eficiência e mercado e não apenas de crise bancária.
Se a consolidação do sistema bancário seguir assim, sem traumas e tendo como horizonte a expansão dos negócios, a própria gestão do Proer talvez possa ganhar a legitimidade que hoje lhe falta.
Ao mesmo tempo, cada fusão sem traumas reduz os riscos de a conta cair integralmente sobre o Tesouro, pois aumenta a confiança do mercado em soluções menos dependentes de ajuda oficial.
O Proer viria a ser então um programa de fortalecimento do sistema, não um esforço tardio para remendar uma desatenção que, já se sabe, sempre sai cara.

Texto Anterior: Não dá para não investir
Próximo Texto: Sivam
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.