São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Sivam

Parece mais do que evidente que seria desejável monitorar o espaço aéreo amazônico, trazer mais recursos para a preservação da floresta, honrar os compromissos externos assumidos e tudo o mais.
Da mesma forma, seria desejável que no país não existissem miséria e violência, analfabetismo e óbitos precoces, corrupção e leniência.
Entre o desejável e o possível, porém, existe um imenso abismo. É o que a filosofia alemã define como "Sein" (o que é) e "Sollen" (o que deveria ser). Sem abrir mão do que se deseja -das chamadas idéias reguladoras, que são necessárias para moldar as metas que se pretendem atingir no futuro-, é preciso ter um mínimo de realismo no exame das oportunidades, sob pena de passar todo o tempo num doce devaneio olvidando o concreto para refugiar-se num sonho que fica assim cada vez mais distante.
O projeto Sivam está orçado, inicialmente, na nada modesta cifra de US$ 1,4 bilhão. É muito dinheiro quando se consideram as imensas carências sociais de um país que conta com 32 milhões de miseráveis, 23% de analfabetos e uma miríade de outras mazelas que não caberia aqui enumerar.
A mais urgente carência aeronáutica da Amazônia parece ser um sistema de radares capaz de guiar os vôos comerciais, semelhantes aos Dacta, que cobrem o restante do país. Um complexo desses, dizem os técnicos, poderia ser construído a um custo de poucas centenas de milhares de dólares. O restante do Sivam, possivelmente -e não há nenhum tipo de unanimidade a esse respeito-, pode conter projetos sedutores, mas precisa também ser examinado sob a ótica de seu enquadramento no conceito de prioridade nacional, principalmente quando se consideram as restrições e aflições a que estão submetidos milhões e milhões de brasileiros que são o retrato das imensas carências sociais do país.
E esse aspecto, que parece mais do que essencial, certamente não tem recebido a atenção e discussão que merece.

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