São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Droga, de volta

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A mais recente versão obtida pela Folha junto ao governo devolve a origem remota do "grampo" nos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos ao território das suspeitas sobre narcotráfico.
É claro que o "grampo" também esteve associado, desde o nascimento, à antipatia que o embaixador semeou entre participantes da campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso e, depois da posse, entre boa parte dos demais inquilinos do Planalto.
Na lista dos adversários de Júlio César, como já se sabe, estão setores da Polícia Federal que se julgaram maltratados por ele e, claro, Francisco Graziano, então chefe do gabinete presidencial. Daí a iniciativa do "grampo" na busca de qualquer coisa que incriminasse o embaixador.
Há, em todo caso, duas hipóteses para o início da operação. Uma, a de que a PF, que, nessa área, atua em cooperação com a DEA (a agência antinarcóticos do governo norte-americano), teria "grampeado" o telefone de João Carlos Assumpção, o dono da Líder.
Não por uma suspeita específica, mas porque o narcotráfico se dá, essencialmente, com o uso de aviões e toda empresa do ramo merece um cuidado especial, particularmente dos americanos.
Como Júlio César é muito amigo de Assumpção, é possível que o "grampo" original tivesse levado a estender os cuidados especiais ao embaixador, ainda mais que este fazia constantes ligações para Corumbá, um dos eixos do narcotráfico. Era por motivos familiares, diga-se.
A segunda hipótese envolve um namorico do embaixador com uma ex-namorada do sobrinho do ex-presidente Itamar Franco, aquele que morreu de "overdose" na Colômbia, no ano passado. A moça é considerada suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas.
Ainda que a origem remota do "grampo" fosse uma dessas duas, o fato é que o alvo era o embaixador, qualquer que fosse o motivo para derrubá-lo. Do contrário, não se explica por que o monitoramento foi suspenso sem que se encontrasse coisa alguma sobre narcotráfico e, sim, suspeitas de outro tráfico (de influências).

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