São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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BC mantém juro alto e compra dólar

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O BC (Banco Central) comprou dinheiro no over por dois dias, a taxa-over de 4,01%. O BC também vendeu R$ 4,3 bilhões em BBCs pela taxa-over de 3,732%.
Somado o efeito da compra de dinheiro e da venda de títulos, o BC "enxugou" o mercado em aproximadamente R$ 1,2 bilhão.
Se tudo correr como espera o mercado, em meados desse mês, a liquidez vai secar e o juro do over vai subir. Essa aposta prevaleceu ontem no mercado futuro.
O BC manobra com uma sanha incomum para manter os juros na lua. Faz 18 meses que essa política, dita transitória, é praticada.
Juros altos para engordar as reservas internacionais? Não faz sentido. Ontem, fez menos ainda, já que o juro pago pelo governo dos EUA nos títulos de 30 anos caiu -ou seja, a rigor, o juro brasileiro ficou ainda mais extorsivo.
Continua entrando um caminhão de dólar pelo comercial (exportações e importações). O BC teve de fazer outro leilão de compra. O juro suga. O BC compra dólares e injeta reais. Depois, vende títulos para "enxugar" os reais. Resultado: a dívida cresceu e o BC ficou com dólares. Parabéns.
Um juro menor, mas ainda real (acima da inflação), teria o mesmo efeito. Com a vantagem de atrair menos capital especulativo e custar menos para o Tesouro.
Manter o juro altíssimo enquanto se espera o ajuste fiscal é um suicídio. O juro amplia o "rombo" e torna qualquer ajuste insuficiente. Essa política de juros é medieval. É como tratar um doente fazendo sangrias.
O juro é custo. A abertura econômica, saudável, impede que as empresas repassem automaticamente seus custos aos preços. Logo, as margens de lucro recuam.
O efeito combinado da abertura e do juro malucamente alto (transitoriamente por 18 meses) está alargando (e cada dia mais) o universo de empresas descapitalizadas.
É por isso que, ao contrário do que se tem dito, as fusões, liquidações e incorporações de bancos estão se dando por problemas nos ativos (empréstimos não-pagos) e não pela queda de receitas com o fim do ganho inflacionário.
Ontem, mais três instituições pequenas naufragaram. A Bolsa paulista sentiu -já em ritmo de vencimento do índice futuro e de opções. Fechou em baixa de 1,22%.

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