São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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'Green Card' oculta dores da imigração

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em "Green Card - Passaporte para o Amor" (Globo, 1h15), Andie MacDowell é um entojo com vocação naturalista que, para alugar um apartamento, precisa estar casado. Depardieu é um francês com jeito de francês grosseiro, que precisa casar para conseguir a carta de trabalho nos EUA.
Feitos um para o outro, então. E feitos para morar longe um do outro, até que o serviço de imigração começa a dar em cima para saber se os dois são casados mesmo. Inútil esconder o que vem depois: é claro que o casal vai se aproximar ao longo do filme e descobrir que nasceram um para o outro.
Isso está em 200 mil comédias dos anos 30. O que pode ter interesse, ou não, é a maneira como acontece. Se está longe de ser original, toca num assunto atualíssimo, que são as barreiras à migração de mão-de-obra existentes nos países desenvolvidos.
Acima de uma determinada cota, e conforme o momento, as pessoas começam a se tornar indesejáveis. Segue-se aumento de poder dos serviços de imigração e tratamento não raro desumano de pessoas vindas de países pobres.
É até certo ponto justo que o filme trate de um francês e de uma norte-americana. Uma comédia tem quase o dever de ser agradável. Mas Peter Weir começa a se consagrar como um especialista em acomodar conflitos reais e reduzi-los à inexistência.
Foi assim em "Sociedade dos Poetas Mortos". Também acontece em "Green Card".
E, nesses casos, o fato de fazer de maneira competente mais ajuda a toldar o problema do que a colocá-lo no devido lugar. Isto é: franceses só vão para os EUA por capricho; não como mão-de-obra. O problema que "Green Card" deixa de tratar é o dos latinos.
(IA)

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