São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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Premiê francês diz que não abre mão de reforma

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O primeiro-ministro francês, Alain Juppé, disse ontem que não abre mão do seu plano de reforma da Previdência social, que está provocando a maior onda de protestos no país desde maio de 1968.
Manifestações convocadas por duas das três maiores centrais sindicais do país levaram ontem cerca de 500 mil pessoas às ruas das maiores cidades francesas. A palavra de ordem era: "Abaixo o plano Juppé".
O premiê francês, no entanto, disse que está disposto a discutir as "modalidades" de implantação da reforma com os sindicatos.
Juppé procurou abrir um caminho de negociação. Negou que estejam definidos, ou negou simplesmente, os planos de privatização e abertura do mercado das estatais, além de mudanças nos impostos, que foram desastradamente anunciados por vários ministros na semana passada.
Esses projetos fizeram o movimento grevista se estender para quase todo o setor público. A greve começou com o protesto de ferroviários e trabalhadores dos transportes públicos de Paris.
Segundo informaram a Confederação Geral do Trabalho e Força Operária, as centrais sindicais que conduzem a greve, as propostas apresentadas ontem por Juppé não mudam sua intenção de prosseguir a greve e estendê-la para todo setor privado.
O premiê reafirmou ontem duas vezes seu plano, que corta e congela benefícios sociais, aumenta taxas e muda o regime de aposentadoria do funcionalismo.
No Parlamento francês, Juppé manteve seu projeto na defesa que fez de seu governo, objeto de uma moção de desconfiança levantada pela oposição, liderada pelo Partido Socialista.
A moção foi derrotada pela ampla maioria do governo, encabeçada pela direitista Reunião pela República. A sessão foi transmitida ao vivo pela televisão.
No final dos telejornais das 20h, Juppé fez um pronunciamento de dez minutos sobre seu projeto.
A adesão à greve continuou a aumentar ontem, ainda que lentamente. Houve cortes de energia elétrica em algumas cidades do norte da França. O país está importando energia da Inglaterra por causa da greve dos eletricitários.
A participação dos trabalhadores do setor privado e estatal concorrencial (automóveis, química e siderurgia) ainda é pequena.
Na Renault, maior fabricante de automóveis do país, as paralisações duraram o tempo necessário para os funcionários participarem das manifestações.
No final das passeatas de Paris (realizada debaixo da primeira tempestade de neve do inverno), Nantes e Montpellier, houve conflitos entre manifestantes e polícia.
Em Paris, cerca de 300 manifestantes tentaram construir barricadas com 11 carros incendiados e depredados. A polícia dispersou rapidamente o quebra-quebra.
A Bolsa de Paris reagiu ontem, depois de seis dias seguidos de queda, e recuperou as perdas de ontem. O mercado atribui a alta à firmeza demonstrada pelo governo desde a manhã.
No seu discurso no Parlamento, o premiê francês fez referência à crise, que, segundo ele, poderia ser provocada pela retirada de seu plano de reformas.
"A França tem um encontro com a história daqui a dois anos. Ela pode escolher entre ficar no grupo das grandes nações ou fazer parte da segunda divisão", disse Juppé.
Ele fazia referência ao tratado de unificação monetária européia, que deve entrar em vigor em 1999.
Para entrar no último estágio de integração da Europa, o uso de uma moeda comum, os países devem cumprir metas bastante estritas no que diz respeito à inflação, controle do déficit e da dívida pública.
Para atingir essas metas, o plano de Juppé procura cortar o déficit. Se recuar, ameaça a unificação da Europa -na qual a França e Alemanha desempenham papel central.
Um recuo também significaria crise econômica. Os investidores se desinteressariam pelo franco, que perderia seu valor. Para mantê-lo, os franceses elevariam os juros, o que poderia conduzir o país a uma recessão.

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