São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995 |
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Lição pela metade
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Deu na capa da revista "Notícias", editada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo):"Os países desenvolvidos nos venderam só alguns volumes da biblioteca sobre livre mercado, os que enfatizam a necessidade de abertura para atingir a globalização da economia. Mas não os capítulos que ensinam como se defender do livre mercado". A frase pertence a Eduardo Zaslavsky, presidente da Comissão de Práticas Desleais da União Industrial Argentina. É a pura verdade, acompanhada de números terríveis: a indiscriminada abertura da economia na Argentina, sem os necessários mecanismos de defesa, levou à falência cerca de 10 mil empresas, sempre segundo a revista da Fiesp, não o "Brasil Agora", o jornalzinho do PT. É uma constatação que vale também para o Brasil, até na relação dos setores que foram, cá como lá, vítimas da abertura indiscriminada, com uma ou outra exceção: têxtil, brinquedos, eletrônicos, madeira compensada, porcelanas e louças e fabricantes de calçados. Alguma surpresa no fato de que, no mesmo período 91/94 em que a economia argentina cresceu cerca de 33%, o desemprego tenha praticamente triplicado? Afinal, importar exige menor número de empregados do que produzir localmente. A rigor, a única discordância em relação à frase do industrial argentino (que, obviamente, a Fiesp está comprando, a ponto de reproduzi-la no alto da capa de sua revista) está no papel passivo que ele atribui aos agentes econômicos locais. A verdade é que ninguém é obrigado a comprar os compêndios em que o mundo rico ensina aos pobres como devem se integrar à economia mundial. Menos ainda é obrigado a praticar os ensinamentos. Se se está fazendo, indiscriminadamente, em toda a América Latina é porque interessa também a pelo menos uma fatia dos poderosos locais, ainda que outra seja duramente atingida. É por essas e por outras que sempre me vem à memória a fábula preferida do empresário Paulo Cunha (Grupo Ultra), a da cigarra e da formiga. Porque, nesse esquema, as formigas (os que produzem) tendem a levar sempre a pior. Texto Anterior: Da lei à moda Próximo Texto: Nem corvo, nem urubu Índice |
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