São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
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O Sivam e você

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Já que mais de 80% dos paulistanos, segundo o Datafolha, não têm a menor noção do que é o Sivam, resolvi, patrioticamente, simplificar as coisas para poder oferecer ao leitor a oportunidade de ele próprio decidir que atitude o Senado e o presidente devem tomar a respeito.
Comece por fazer de conta que você precisa de uma geladeira nova, talvez um novo fogão, mas, em vez disso, preferiu arriscar-se na montagem de um novo negócio, aliás inédito no mundo.
Como é muito caro, você precisa de dois sócios, um nacional e um estrangeiro. Aí você, que não é do ramo, indica um amigo para fazer a parte nacional do negócio, sem consultar nem sequer a própria mulher.
O amigo fuça daqui, fuça dali e ajuda ele próprio a definir quem será o sócio estrangeiro, que você, naturalmente, aceita, também sem consulta aos seus próximos.
Tempos depois, você descobre que o sócio-amigo, o nacional, é inidôneo. Falsificou até guias da Previdência Social e é obrigado a cair fora do negócio.
Mas você, que parece ter inesgotável confiança na honestidade do ser humano, insiste em manter, como sócio estrangeiro, aquele que o seu ex-sócio, o inidôneo, havia ajudado a escolher.
Passa mais um tempinho e você é informado de que o sócio estrangeiro escolheu, para representá-lo no Brasil, um cidadão que andou envolvido no mais célebre rolo da República, o caso PC Farias, um dos raros vilões de colarinho branco que acabou sendo preso.
No meio de tudo isso, há um tremendo zunzunzum sobre maracutaias várias, que você mal consegue entender, quanto mais digerir.
O que você faz, então? Toca o projeto em frente ou acha melhor reunir a família, os amigos, o cachorro, os corvos (papagaio é fora de moda) para pensar melhor no assunto?
Dá finalmente uma chance a sua mulher para dizer que talvez seja melhor empregar o dinheiro na geladeira nova (no caso real, em educação, saúde, saneamento e demais carências amazônicas) ou insiste no projeto faraônico?
O caso Sivam é o que se descreveu acima, com a Esca no papel de sócio declarado inidôneo e a Raytheon como sócio estrangeiro que a Esca ajudou a selecionar.
E você no papel de você mesmo, o que paga a conta. Você decide.

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