São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
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Serpentário

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Há algo de inquietante na Brasília dos últimos dias. A cidade foi como que tomada pela fofoca. As intrigas vão-se banalizando. Um serpentário, eis a melhor imagem para a Brasília de que estamos falando. Cada autoridade do governo, cada parlamentar parece carregar no bolso a sua porção de veneno.
É como se todos estivessem possuídos pelo espírito de Vital Brazil, o cientista que extraiu do veneno da própria serpente o antídoto para deter os seus efeitos.
Há duas Brasílias: a convencional e a do diz-que-diz. Um mesmo personagem pode ter personalidades diversas. Tudo dependerá da Brasília em que se o coloque.
Note-se, por exemplo, o caso do diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti. Há um Chelotti fraco, ameaçado de demissão, e outro fortíssimo.
Entre o Chelotti que balança e o que está firme como rochedo há um rio de veneno. Um rio que ameaça desaguar sobre a reputação do presidente da República trechos ainda inéditos do escândalo do "grampo".
Na Brasília convencional, há um Antônio Carlos Magalhães que com um olho investiga o escândalo do Sivam e com o outro observa o comportamento do Banco Central em relação ao Econômico.
Na capital das futricas, trancado num cofre de Cláudio Mauch, diretor do Banco Central, há outro ACM. Um senador relacionado numa lista de políticos agraciados com doações monetárias do Econômico, guardada numa misteriosa pasta cor-de-rosa.
Entre o ACM que investiga e o que frequenta a pasta rosada há um terreno fértil para a briga. O senador, aliás, já chamou o BC para o duelo. Desafiou-o a arrancar da sombra a pasta misteriosa.
Há ainda nas duas Brasílias um José Sarney que vive de espetar o governo e outro que faz companhia a ACM na pasta do Econômico. O Sarney que alfineta suspeita que o sósia da pasta tenha vindo a público apenas porque o governo está interessado em arrumar escândalo novo. Algo que arranque o Sivam das páginas dos jornais.
A existência de duas capitais seria cômica não fosse por um detalhe: o país não espera fofocas de Brasília, mas trabalho.

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