São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Doença do coração cresce 10% em dez anos

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL AO CHILE

Nos últimos dez anos, a mortalidade por doenças do coração no Brasil aumentou em 10%.
A cada três pessoas que morrem, uma é vítima de doenças cardiovasculares. Entre os que sofrem um infarto do miocárdio, 50% têm menos de 60 anos.
Essas são as notícias ruins. A notícia boa é que novas drogas e novos estudos estão mostrando que os fatores de risco podem ser enormemente diminuídos em qualquer fase da vida. Com remédio ou sem remédio.
A prevenção primária ou cárdio-proteção -o tratamento de fatores antes do aparecimento da doença- ganhou todas as atenções no 15º Congresso Interamericano de Cardiologia que terminou neste sábado em Santiago do Chile, capital do país.
Entre os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, os médicos listam a hipertensão, o colesterol, o excesso de peso, a vida sedentária, o fumo e o stress -além do diabetes e da hereditariedade. A posição nesse ranking de ameaças depende de cada indivíduo.
Vários estudos apontam o colesterol como o principal inimigo dos vasos do organismo, levando 30% a 40% das vítimas de morte por doença cardiovascular.
A hipertensão e o cigarro vêm em segundo lugar, com 20% a 25%, seguidos pelo sedentarismo com 10% a 20%.
Os que têm diabete e aqueles com história de doença cardiovascular na família acabam entrando precocemente no grupo de risco.
Os médicos que participaram do congresso de Santiago pintaram um quadro negro, mas se mostraram animados.
Um estudo realizado durante seis anos pela Universidade de Glasgow, na Escócia, e apresentado no simpósio, revelou que o uso prolongado da droga pravastatina -fabricada pela Bristol-Myers Squibb- reduziu o colesterol em 20% e derrubou as doenças e mortes por causas cardiovasculares em mais de 30%.
"Até agora, 14 grandes estudos já tinham mostrado que a diminuição do colesterol para quem já sofreu um infarto reduzia em 52% o risco de um segundo acidente", afirma o professor José Ernesto dos Santos, 49, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto.
Uma dúzia de outros estudos de longo prazo estão em andamento. Outras estatinas, drogas capazes de reduzir o colesterol, estão a caminho do mercado.
"Colesterol elevado aumenta em seis vezes as chances de se ter um infarto do miocárdio", diz o professor Santos, que foi um dos apresentadores do estudo de Glasgow no congresso de Santiago.
O colesterol é uma gordura ingerida através de alimentos de origem animal ou fabricada pelo próprio organismo. Quando em excesso, produz placas que grudam na parede dos vasos, provocando danos à saúde.
Novos remédios contra a pressão alta provocam menos efeitos colaterais que seus antecessores.
Cada vez mais médicos estão adotando práticas para diminuir os fatores de risco sem receitar medicamentos.
Melhorar a qualidade de vida, mudar hábitos alimentares, perder peso e deixar de fumar são conselhos que, em muitos casos, estão substituindo as receitas.
"Não há pressão que não se controle", diz Décio Mion Júnior, nefrologista e coordenador da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os dados, no entanto, são alarmantes. As doenças cardiovasculares ocupam o primeiro lugar nas causas de morte no país, são a primeira causa de aposentadoria precoce, exigem exames e procedimentos mais caros e são as de maior duração.

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