São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Governo FHC: Comunidade Solidária aos bancos

MARTA SUPLICY

O Comunidade Solidária ainda não conseguiu mostrar a que veio. E não vai ser diferente se o social não encontrar espaço e força nos centros de decisão do governo.
Em tese, a proposta de gerenciar os projetos sociais a partir de uma articulação com todos os ministérios é pertinente para o trato dessas questões pelo poder público. Assim, a idéia de o Comunidade Solidária articular as ações sociais governamentais não é má, pois poderia tornar as intervenções mais eficazes, economizar recursos e canalizar esforços para a superação das enormes desigualdades sociais de nosso país.
Nessa direção, o estabelecimento, pelo Programa, de critérios para identificação de 10% das localidades mais pobres do país foi um progresso frente aos caos anterior onde cada ministério fazia o que queria, duplicando esforços com resultados pífios. Na realidade essa foi a única contribuição do Comunidade Solidária até agora.
A inexistência de suplementação de verbas orçamentárias específicas para os programas sociais torna o Comunidade Solidária inócuo, para não dizer vexaminoso. Enquanto o governo não tiver um plano social e se empenhar por ele como faz com o plano econômico, os recursos para a área social continuarão extremamente limitados.
Infelizmente as prioridades do governo têm sido de outro tipo. Assistimos estarrecidos a uma série de ações que, como sempre em nosso país, constituem-se em benesses para a manutenção dos privilégios das elites dominantes. Exemplos não faltam: socorro a usineiros falidos, assunção de débitos de empresas ineficientes, créditos generosos a banqueiros inescrupulosos etc.
Se somarmos todos esses valores, o resultado daria não só para fazer funcionar o Comunidade Solidária, como para assentar os milhares de sem-terra e avançar em outros programas de cunho social que possibilitariam resgatar da miséria a imensa maioria da população brasileira.
Nesta crítica não vai nenhum repúdio às cestas básicas ou à distribuição de merenda escolar de melhor qualidade. Enfim, num país de miseráveis, ações emergenciais são necessárias.
Entretanto o governo dos cinco dedos tem de ir muito além de ações paliativas. Por que não pensar seriamente na implantação do Programa de Renda Mínima, que tem demonstrado que faz de fato diferença onde implantado?

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