São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Processo tem adversários teóricos nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A tendência aparentemente irresistível em direção às grandes fusões tem seus adversários teóricos nos Estados Unidos.
Alguns desmembramentos neste ano, como o da AT&T (na área de telecomunicações), serviram de argumento para aqueles que acham que fundir nem sempre é bom negócio.
A divisão da AT&T pegou muita gente de surpresa, porque o presidente da empresa, Robert Allen, era um dos principais defensores das fusões.
Em 1991, a AT&T pagou US$ 7,5 bilhões pela NCR e, em 1994, US$ 12,6 bilhões pela McCaw Cellular.
Mas a fusão com a NCR fracassou de tal modo que, por causa dela, Robert Allen resolveu dividir a AT&T.
Análise
Um mês depois do anúncio do desmembramento da AT&T, a revista norte-americana "Business Week" publicou uma extensiva análise sobre 150 fusões envolvendo valores superiores a US$ 500 milhões ocorridas na década de 1990.
A respeitada consultoria Mercer Management concluiu, no estudo encomendado pela revista, que metade das fusões analisadas trouxe prejuízos para os acionistas tanto da empresa compradora como da comprada.
Em um terço dos casos analisados, foram registrados pequenos aumentos de dividendos para os acionistas. Só em cerca de um quarto das fusões, elas foram consideradas sucessos.
Além de não terem trazido lucros, as fusões em geral deixaram a empresa compradora com dívidas que dificultam seu desempenho posterior.
O processo complicado de juntar equipes, filosofias e culturas empresariais diferentes provoca conflitos e frustrações que acabam por afetar a produtividade da nova empresa, segundo explica o trabalho publicado.
Década de 80
O estudo da Mercer confirma os resultados de outro, similar, feito por Michael Porter, professor da Universidade de Harvard, também nos Estados Unidos, para avaliar os resultados das megafusões dos anos 80.
Uma colega de Porter na Universidade de Harvard, Rosabeth Moss Kanter, critica as fusões pelos efeitos sociais que provoca nas comunidades, nas quais grandes empresas adquiridas por outra exerciam papel de liderança.
Ela diz que a compra da NCR pela AT&T "abriu buracos no tecido social" de Dayton, Ohio, meio-oeste dos Estados Unidos, onde executivos da NCR eram líderes cívicos e a empresa era a grande contribuinte em obras de caridade. Sem contar, os milhares de empregos perdidos.
Rosabeth Kanter acha que fenômeno parecido vai acontecer com Atlanta, Georgia, sul dos Estados Unidos, depois que a TBS (dona da CNN) passar para o controle da Time.
Diversificação
Segundo a Mercer, as fusões que dão certo são aquelas em que uma empresa compra outra para fortalecer sua linha de produtos, não para diversificá-la.
Um exemplo é a compra do jornal "The Boston Globe" pelo "The New York Times" ou da indústria de alimentos Pace pela Campbell.
Outro tipo de fusão bem sucedida é a que dá condições a uma empresa de expandir sua linha de produtos para outros países.

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