São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Secretária defende reforma no ensino de SP

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a abertura, amanhã, das matrículas na rede estadual para alunos de 1ª série, entra na fase prática a maior reforma no ensino do Estado de São Paulo desde a década de 70.
"Do ponto de vista pedagógico e de racionalização da rede, realmente não tenho dúvida da importância desse projeto", diz a secretária da Educação, Rose Neubauer, 50.
Atualmente, a maioria das escolas da rede oferece todas as séries do 1º e 2º graus. Com a reforma, serão divididas: algumas ficam com a 1ª a 4ª série, outras com a 5ª a 8ª série mais o 2º grau.
Essa divisão tem desagradado pais, seja porque seus filhos vão para uma escola pior ou mais distante, seja porque os filhos irão a escolas diferentes.
Nesta entrevista, realizada sexta-feira, Neubauer defende as reforma que está implantando.

Folha - Como a sra. vê a resistência de pais à reforma?
Neubauer - De uma maneira geral, eu acho que a resistência é muito pequena em uma rede que tem 6.600 escolas e cerca de 6,5 milhões de alunos. Eu acho que nós não tivemos nenhum grande movimento de manifestação. Qualquer movimento, para começar a ser expressivo, teria de envolver cerca de 1 milhão de alunos. Mesmo nas escolas, são poucas as pessoas, em relação ao total, que estão se manifestando.
Folha - A sra., como mãe de aluna, não ficaria aflita se sua filha fosse sair de uma escola em boas condições e ir para outra em pior estado?
Rose Neubauer - Eu acho que tem situações especiais em que os pais ficam até preocupados que seja garantido o ensino e a condição de qualidade. Mas o problema é que muitas vezes a comunidade não tem clareza de como ela está sendo mal servida.
Folha - O que melhoraria com a reforma?
Neubauer - As vantagens para a população são tão grandes! Por exemplo, no ano que vem 2 milhões de crianças vão ter uma hora de aula a mais. São 2 milhões de crianças que no final de quatro anos vão ganhar um ano a mais de escolaridade. Hoje eu tenho 24 mil professores a mais de 1ª a 4ª série que vão estar completando uma jornada de 40 horas com uma única classe, quando antes eles não tinham condições de fazer isso porque as crianças só tinham quatro horas de aula por dia. Ontem eu recebi um grupo de pais de Cubatão reclamando que eu iria fechar a escola. Quando fui olhar, era uma escola que reprovava 55% das crianças na 4ª série. Então, há uma idéia de ótimo que é absolutamente descolada da realidade.
Folha - Mas, nesse sentido, há uma crítica de várias entidades quanto à imposição dessa reforma...
Neubauer - Não são de todas as entidades. A Udemo (sindicato de diretores), que é uma entidade bastante significativa e forte, não está fazendo essa crítica. No seu programa, este governo falou, com muita clareza, que nós iríamos separar as escolas de 1º e 2º graus. Eu precisaria fazer várias construções escolares para colocar todas essas 2 milhões de crianças estudando cinco horas por dia. Com essa racionalização, se poupou muita construção.

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