São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Capobianco parte para o 'parlamentarismo' gerencial

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A sucessão em empresas familiares costuma ser problemática. Na Construcap, fundada em 1945 pelo engenheiro Júlio Capobianco, não foi diferente. A solução é que foi original.
A empresa está adotando o "parlamentarismo". Os três dos sete filhos do patriarca que atuam na empresa dividem as responsabilidades, numa espécie de conselho diretivo.
O pai, aos 74 anos, vai aos poucos se afastando do negócio. Embora seja o superintendente do grupo, não interfere mais nas decisões administrativas, mas ainda controla o patrimônio.
Eduardo Capobianco, 43, diretor administrativo da Construcap, diz que o modelo "parlamentar" garante uma sucessão "tranquila".
A idéia é que ele permita profissionalizar uma típica empresa familiar sem fazer com que ela deixe de ser familiar.
Administrador formado pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo em 1975, Capobianco divide com os irmãos Júlio e Roberto, engenheiros, a direção do grupo. Entrou na empresa como estagiário "por ser filho do dono" e ao final de um ano era diretor.
Hesita em assumir a autoria da idéia de parlamentarismo gerencial, mas é o artífice do modelo.
A experiência parlamentarista começou no Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) de São Paulo, onde sucedeu ao próprio pai na presidência, em 92.
Co-fundador do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), em 1987, o administrador entrou no ano seguinte para a diretoria do Sinduscon. Nela, participou da reforma estatutária, que criou um novo modelo eleitoral, basicamente "parlamentarista".
Por esse modelo, todos os candidatos à diretoria têm o mesmo status. Os membros da chapa vencedora escolhem entre os eleitos um presidente e um vice-presidente administrativo-financeiro -o segundo homem na hierarquia. Os outros 13 integrantes da chapa são vice-presidentes, cada um responsável por uma área específica.
Essa experiência deu a Eduardo Capobianco uma liderança com a qual ele não sonhou. "Entrei no Sinduscon para melhorar as condições para as empresas. O que eu gosto é de ser empresário. Não tenho ambição política", afirma.
Ele considera um dos feitos da direção do Sinduscon nesse período a mudança da Lei de Licitações, que moralizou o setor e despertou a concorrência.
"Antes, sete empresas detinham 70% das obras. Não por competência, mas por esquemas que elas tinham", explica.
A segunda proeza -ajudada pela abertura econômica- foi pressionar os fornecedores para baratear materiais. O cimento, que chegou a custar US$ 240 a tonelada no início dos anos 80, hoje vale cerca de US$ 110, preço considerado competitivo até no exterior.
Capobianco promete abandonar a carreira de líder empresarial dentro de dois anos e meio, quando acaba seu segundo mandato no Sinduscon. Quer dedicar mais tempo à empresa e a si próprio.
Uma das metas é participar intensamente do processo de concessões. A Construcap estuda participar da privatização de estradas.
No plano pessoal, a meta é dedicar um pouco mais de tempo aos filhos e à leitura, uma das paixões. A outra é correr -faz "cooper" quatro vezes por semana nos parques da zona oeste, onde mora.
Capobianco se considera um empreendedor. Então, por que não montou sua própria empresa, em vez de continuar no negócio da família? "Isso provavelmente ocorreria se não tivesse encontrado espaço aqui dentro", responde.
Ele conta que passou os quatro anos da universidade pensando na empresa, mas diz que não sabe como decidiu ser administrador.
"Eu tinha uma vantagem: era o único administrador. Fui ocupando meu espaço. Apesar dos conflitos internos, consegui contribuir para que a empresa chegasse ao seu estágio atual", afirma.
Desde que assumiu o cargo, a Construcap passou de uma construtora de edificações para uma empresa de engenharia de terraplanagem e infra-estrutura, abriu uma agropecuária e uma usina de açúcar e álcool.

Texto Anterior: Economia e economistas
Próximo Texto: Previdência privada pode reduzir o IR já em janeiro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.