São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Desatinos

JUCA KFOURI

Eles desatinaram. Eurico Miranda e Marquinho Chedid. O primeiro é mais inteligente, mais cínico, mais calejado no trato com o submundo. Escolheu Pelé como alvo.
Se erra quanto ao julgamento da opinião pública, que certamente não tem dúvidas entre um e outro, acerta na tentativa desesperada de desviar a discussão. Claro que Pelé tem quase 40 anos de vida pública e é o chamado livro aberto.
Miranda, ao contrário, já foi chamado de ladrão pelo empresário Artur Sendas e foi derrotado na Justiça ao processá-lo.
Miranda, no entanto, não herdou a malandragem que o caracteriza e, apesar do sobrenome, vale repetir, não é parente do senador Gilberto Miranda.
Já Marquinho Chedid é dramático, hipócrita e filho de Nabi, presidente da CPI do Bingo instalada em São Paulo.
(A malfadada invenção dos bingos -vale sempre repisar- deve-se ao deputado cassado por falta de decoro parlamentar, Onaireves Moura).
Menos inteligente, escolheu este colunista como alvo.
Diferentemente do que pensa o ministro Pelé, a coluna defende o fim dos bingos, até daqueles que estejam dentro da lei.
Bingos e clubes esportivos são como vinagre e água, não se misturam. E, ao que parece, será essa a conclusão da deputada Zulaiê Cobra Ribeiro, presidente da CPI federal.
Mas que isso não obscureça o mais importante. A responsabilização dos deputados que achacaram os bingueiros.
Em artigo nesta Folha, Marquinho Chedid disse que abriu seu sigilo bancário e telefônico.
É mentira. Disse sim que toparia abrir sua conta bancária -até porque não há de ter depositado o que recebeu dos bingueiros em sua conta no Brasil-, mas saiu de mansinho quando se falou em quebrar o sigilo telefônico.
Marquinho Chedid escreveu que é um homem ligado ao esporte.
De fato. Levou a Ponte Preta e o Novorizontino quase à falência.
Diz que mexeu com "interesses poderosos do sr. Juca, por exemplo". Na hipótese de ser o signatário o sr. Juca a que se refere -e tudo indica que sim-, e já que ele não menciona quais seriam esses interesses, fica ao leitor uma explicação -e só ao leitor porque, convenhamos, Chedid não a merece: meu interesse é apenas um, até pomposo, o de apurar a verdade.
Já os desejos são dois: ver gente como Miranda e Chedid cassada e os bingos fechados.

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