São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Um mundo em extinção
JOSÉ LUIS SILVA
Gwyn Barry é o motivo da inveja, e da raiva, de Tull. Embora amigos há muito tempo, eles são antípodas. Tull é um autor de romances obscuros tornado pela vida resenhista de biografias e editor de uma pequena publicação literária. Ele bebe, se droga, chora enquanto dorme e é impotente, além de muito invejoso. Barry escreve com clareza e seus livros fazem sucesso. Hollywood se interessa por suas histórias, a mídia o adora. É rico e muito bem casado com Lady Demeter de Rougemount, mulher bonita e de grande apetite sexual. Barry é "politicamente correto" por essência, além de muito invejado. Ele é tudo o que se espera dele. A narrativa descreve a saga de Tull contra Barry, e todos os artifícios por ele utilizados para desmascarar o suposto oportunismo do "amigo". Tull e Barry são assim a chance para Amis traçar um mosaico do mundo editorial, do agenciamento literário e do que se tornou a literatura sob o império da comunicação de massa. O crítico Ed Morales comenta, no "Village Voice", que "a informação a que ele (Amis) se refere é a Morte, Morte do romance inglês, Morte da civilização ocidental, Morte do homem branco". Isso tudo é verdade e insere "A Informação" no debate pós-moderno sobre as novas mídias e o fim da literatura. Mas ainda resta algo a ser dito. Com seu novo romance, Amis, um profissional da informação (ele é jornalista) e do entretenimento, de algum modo subverte a ordem decadente do mundo literário pelo ato mesmo de sua descrição. Inventivo, transforma a possibilidade do fim da literatura em assunto literário, e a morte, em vida. (JLS) Texto Anterior: Incidentes literários Próximo Texto: O trabalho silencioso da morte Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |